sábado, 27 de setembro de 2008

ENTENDENDO O PERDÃO:

Entendendo o Perdão
////Luciano Subirá////

“Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta”. - Mateus 5:23,24


A reconciliação não é algo a ser praticado somente entre nós e Deus, mas também para com nossos irmãos. Reconhecemos, que, à semelhança da cruz, também temos duas linhas do fluir da reconciliação: a vertical (o homem com Deus) e a horizontal (entre os homens). O mesmo perdão que recebemos de Deus deve ser praticado para com nossos semelhantes.

QUEM NÃO PERDOA NÃO É PERDOADO

O perdão (ou a falta dele) faz muita diferença na vida de alguém. A reconciliação horizontal determina se a vertical que recebemos de Deus vai permanecer em nossa vida ou não. A palavra de Deus é clara quanto ao fato de que se não perdoarmos a quem nos ofende, então Deus também não nos perdoará. Foi Jesus Cristo quem afirmou isto no ensino da oração do Pai-nosso:


“Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas”. - Mateus 6:14,15


Deus tem nos dado seu perdão gratuitamente, sem que o merecêssemos, e espera que usemos do mesmo espírito misericordioso para com quem nos ofende. Se fluímos com o Pai Celestial no mesmo espírito perdoador, permanecemos na reconciliação alcançada pelo Senhor Jesus. Contudo, se nos negamos a perdoar, interrompemos o fluxo da graça de Deus em nossa vida, e nossa reconciliação vertical é comprometida pela ausência da horizontal. Cristo também nos advertiu com clareza sobre isto em uma de suas parábolas (faladas num contexto que envolvia o perdão):

“Por isso o reino dos céus é semelhante a um rei, que resolveu ajustar contas com os seus servos.

E passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que devia dez mil talentos.

Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o seu senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, e que a dívida fosse paga.

Então o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo e tudo te pagarei.

E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora, e perdoou-lhe a dívida.

Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: paga-me o que me deves.

Então o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo e te pagarei.

Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida.

Vendo os seus companheiros o que havia se passado, entristeceram-se muito, e foram relatar ao seu senhor tudo o que acontecera.

Então seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?

E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse toda a dívida.

Assim também o meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão”. - Mateus 18:23-35


O significado desta ilustração dada por Jesus Cristo é muito forte. Temos um rei e dois tipos de devedores. Se a parábola ilustra o reino de Deus, então o rei figura o próprio Deus. O primeiro devedor tinha uma dívida impagável, enquanto que a do segundo estava ao seu alcance. Não há como comparar a dívida de cada um. Dez mil talentos da dívida do primeiro servo era o equivalente a cerca de 200.000 dias de trabalho, enquanto que os cem denários que o outro servo devia era o equivalente a apenas cem dias de trabalho. Esta diferença revela a dimensão da dívida que cada um de nós tinha para com Deus, e que, por ser impagável, estávamos destinados à prisão e escravidão eterna. Contudo, sem que fizéssemos por merecer, Deus em sua bondade, nos perdoou. Portanto, Ele espera que façamos o mesmo. O cristão que foi perdoado de seus pecados e recusa-se a perdoar um irmão – seu conservo no evangelho – terá seu perdão revogado.

Isto é muito sério. As ofensas das pessoas contra a gente não são nada perto das nossas ofensas que o Pai Celestial deixou de levar em conta. E a premissa bíblica é de que se pudemos ser perdoados por Ele, então também devemos perdoar a qualquer um que nos ofenda.

A FALTA DE PERDÃO É UMA PRISÃO

Quem não perdoa, está preso. Lemos em Mateus 18:34: “E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse toda a dívida”. A palavra verdugo significa “torturador”. Além de preso, aquele homem seria torturado como forma de punição. A prática do ministério nos revela que o que Jesus falou em figura nesta parábola é uma realidade espiritual na vida de quem não perdoa. Os demônios amarram a vida daqueles que retém o perdão. Suas torturas aplicadas são as mais diversas: angústia e depressão, enfermidades, debilidade física, etc.

Muita gente tem sofrido com a falta de perdão. Outro dia ouvi alguém dizendo que o ressentimento é o mesmo que você tomar diariamente um pouco de veneno, esperando que quem te magoou venha a morrer. A falta de perdão produz dano maior em quem está ferido do que naquele que feriu. Por isso sempre digo a quem precisa perdoar: - “Já não basta o primeiro sofrimento, porque acrescentar um outro maior (a mágoa)”?

Alguns acham que o perdão é um benefício para o ofensor. Porém, eu digo que o benefício maior não é o que foi dado ao ofensor, mas sim o que o perdão produz na vítima, naquele que está ferido. Sem perdão não há cura. A doença interior só se complica, e a saúde espiritual, emocional e física da pessoa ressentida é seriamente afetada. Em outra porção das Escrituras (onde o contexto dos versículos anteriores é o perdão), vemos o Senhor Jesus nos advertindo do mesmo perigo:


“Entra em acordo sem demora com teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão.

Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último centavo”. - Mateus 5:25,26

Não sei exatamente como é está prisão, mas sei que Cristo não estava brincando quando falou dela. A falta de perdão me prende e pode prender a vida de mais alguém. Isto é um fato comprovado. Tenho presenciado gente que esteve presa por tantos anos, e ao decidir perdoar foi imediatamente livre. Isto também pode acontecer com você, basta decidir perdoar.

SEGUINDO O EXEMPLO DIVINO

Como deve ser o perdão?

A pessoa tem que pedir o perdão ou merecê-lo para poder ser perdoada? Não. Devemos perdoar como Deus nos perdoou:

“Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou”. - Efésios 4:32

O texto bíblico diz que nosso perdão e reconciliação horizontal deve seguir o exemplo da que Deus em Jesus praticou para conosco. Então, basta perguntar: - “Fizemos por merecer o perdão de Deus? Não. Então nosso ofensor também não precisa fazer por merecer”.

O perdão é um ato de misericórdia, de compaixão. Nada tem a ver com merecimento. O apóstolo Paulo falou aos efésios que o perdão é fruto de um coração compassivo e benigno. O perdão flui da benignidade do nosso coração, e não por haver ou não benignidade no ofensor.

Jesus disse que se eu souber que alguém tem algo contra mim, devo procurá-lo para tentar a reconciliação. Mesmo se tal pessoa não me procurar ou nem mesmo quiser falar comigo, tenho que ter a iniciativa, tenho que tentar.

Deus ofereceu perdão gratuito a todos, independentemente de qualquer comportamento, e Ele é nosso exemplo!

NÃO HÁ LIMITE DE VEZES PARA PERDOAR

Certa ocasião, o apóstolo Pedro quis saber o limite de vezes que existe para perdoar alguém. E foi surpreendido pela resposta que Cristo lhe deu:

“Então Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. - Mateus 18:21,22

O Senhor declarou que mesmo se alguém repetir sua ofensa contra mim por quatrocentos e noventa vezes, ainda deve ser perdoado. Na verdade, os comentaristas bíblicos em geral entendem que Jesus não estava se prendendo a números, mas tentando remover o limite imposto na mente dos discípulos para perdoar.

Fico pensando o que seria de nós sem a misericórdia de Deus. Quantas vezes Deus já nos perdoou? Quantas mais Ele vai nos perdoar? Se devemos perdoar como também Deus em Cristo nos perdoou, então fica claro que não há limite de vezes para perdoar!

O DIABO É QUEM LEVA VANTAGEM

Já falamos que há uma prisão espiritual ocasionada por reter o perdão. E que demônios se aproveitam desta situação. Agora queremos examinar um outro texto bíblico que nos mostra nitidamente que a falta de perdão dá vantagem ao diabo:


“A quem perdoais alguma cousa, também eu perdôo; porque de fato o que tenho perdoado, se alguma cousa tenho perdoado, por causa de vós o fiz na presença de Cristo, para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios”. - II Coríntios 2:10,11


O apóstolo Paulo revela que se deixamos de perdoar, quem vai se aproveitar da situação é Satanás, o adversário de nossas almas. Disse ainda, que não ignorava as maquinações do maligno. Em outras palavras, ele estava dizendo que justamente por saber como o diabo age na falta de perdão, é que não podia deixar de perdoar.

Precisamos entender que Deus não será engrandecido na falta de perdão. Que o ofendido não lucra nada por não perdoar. Que até mesmo o ofensor pode estar espiritualmente preso. O único que lucra com isso é o diabo, pois passa a ter autoridade na vida de quem decide alimentar a ferida do ressentimento.

A Bíblia nos ensina que não devemos dar lugar ao diabo (Ef.4:27). Que ele anda em nosso derredor rugindo como leão, buscando a quem possa tragar (I Pe.5:8), e que devemos resisti-lo (Tg.4:7). Mas quando nos recusamos a perdoar, estamos deliberadamente quebrando todos estes mandamentos.


CONSELHOS PRÁTICOS

Para aqueles que reconhecem que não há saída a não ser perdoar, mas que, por outro lado, não é algo tão fácil de se fazer, quero oferecer alguns conselhos práticos que serão de grande valia.

Primeiro, o perdão não é um sentimento, é uma decisão e também uma atitude de fé. Já dissemos que o perdão não é por merecimento, logo, não tenho motivação alguma em minhas emoções a perdoar. Não me alegro por ter sido lesado, mas libero aquele que me lesou por uma decisão racional. Portanto, o perdão não flui espontaneamente, deve ser gerado no coração por levar em consideração aquilo que Deus fez por mim e sua ordem de perdoar. As conseqüências da falta de perdão também devem ser lembradas, para dar mais munição à razão do que à emoção.

É preciso fé para perdoar. Certa ocasião quando Jesus ensinava seus discípulos a perdoarem, foi interrompido por um pedido peculiar:


“Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.

Se por sete vezes no dia pecar contra ti, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe. Então disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé”. - Lucas 17:3-5


Naquele instante os discípulos reconheceram que para praticar este nível de perdão iriam precisar de mais fé. E Jesus parece ter concordado, pois nos versículos seguintes lhes ensinou que a fé é como semente, quanto mais se exercita (planta) mais ela cresce (se colhe).

É necessário crer que Deus é justo e que Ele não nos pede mais do que aquilo que podemos dar. Se Deus nos pediu que perdoássemos, Ele vai nos socorrer dispensando sua graça no momento em que tivermos uma atitude de perdão.

Muitas vezes o perdão precisa ser renovado. Depois de declarar alguém perdoado, o diabo, que não quer perder seu domínio, vai tentar renovar a ferida. Em provérbios 17:9 as Escrituras Sagradas nos falam sobre encobrir a questão ou renová-la. É preciso tomar uma decisão de esquecer o que houve, e renovar somente o perdão. Cada vez que a dor tentar voltar, declare novamente seu perdão. Ore abençoando seu ofensor. Lute contra a mágoa!

É importante ver os ofensores como vítimas. Isto é algo especial que vejo em Jesus na cruz:


“Contudo Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. - Lucas 23:34


Em vez de olhar para eles como quem merece punição e castigo, Jesus enxerga que eles também eram vítimas. Aqueles homens estavam em cegueira e ignorância espiritual, debaixo de influência maligna, sem nenhum discernimento de quem estavam de fato matando. Eram vítimas de todo um sistema que os afastou de Deus e da revelação das Escrituras. E ao reconhecer que ele é que eram vítimas, em vez de alimentar dó de si mesmo (como nós faríamos), Jesus teve compaixão deles.

Acredito que este é um princípio para o perdão fluir livremente. Assim como Jesus o fez, deixando exemplo, Estevão, o primeiro mártir do Cristianismo, também o fez:


“Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado”. - Atos 7:60


Quando você começa a enxergar as misérias da vida espiritual de seu ofensor (ao menos a que manifestou no momento de te ferir), e canaliza o amor de Deus por ele, como você também necessita do amor divino ao se achegar arrependido em busca de perdão, a coisa fica mais fácil.

CONHECENDO A CRISTO:

Conhecendo a Cristo
////Luciano Subirá////

“Assim que, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, ainda que também tenhamos conhecido a Cristo segundo a carne, contudo, já não o conhecemos desse modo. Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. - II Coríntios 5:16,17

zO versículo 17 fala sobre transformação, que é a essência do Evangelho, mas não aparece na Bíblia como um texto isolado; ele está intimamente ligado ao versículo 16, que fala sobre conhecer a Cristo. Acredito que os dois assuntos estão vinculados entre si. Toda transformação experimentada pelo crente vem em função do conhecimento que ele tem de Jesus Cristo. Há dois diferentes níveis de conhecimento mencionados pelo apóstolo Paulo no versículo 16:

O conhecimento “segundo a carne”, que pertence à dimensão natural.
O conhecimento “de um outro modo”, que por ser diferente do primeiro, e mencionado em outros lugares da Bíblia, denominamos como “conhecimento espiritual”, ou ainda de “revelação”.
Paulo declara que a forma correta de se conhecer a Cristo é esta segunda. E depois de ter feito esta afirmação é que ele fala sobre o ser nova criatura, porque isto é uma conseqüência de se conhecer a Cristo “de um outro modo”.

CONHECIMENTO SEM TRANSFORMAÇÃO

Há pessoas que conheceram a Jesus de perto, até mesmo de forma íntima, e nunca chegaram a provar o seu poder transformador. Um exemplo claro disto é Judas Iscariotes, que depois de passar anos andando com Cristo, ainda assim o traiu. E seu pecado não foi somente no momento da traição, senão poderíamos até concluir que ele falhou somente nesta hora; mas João declarou em seu evangelho que Judas era ladrão e roubava o que era lançado na bolsa (Jo.12:6); e esta informação demonstra que ele nunca foi transformado de fato.

Alguém pode chegar a conhecer muita coisa sobre Cristo sem nunca ter conhecido a Cristo! As igrejas evangélicas estão cheias de gente religiosa, que foi bem ensinada sobre como ser um “bom cristão”, mas que não manifestam transformação alguma em suas vidas! São sempre as mesmas, e não há evidências de mudança genuína. Isto se deve à falta de revelação que acompanha uma verdadeira experiência com Cristo.

Quando Paulo escreveu a Timóteo, seu filho na fé, falou acerca de algumas pessoas que estavam vivendo uma vida “não transformada”:

“Elas estão sempre aprendendo, e jamais conseguem chegar ao pleno conhecimento da verdade”. - II Timóteo 3:7

OS IRMÃOS DE JESUS

Outro exemplo de conhecimento sem transformação (segundo a carne) pode ser visto nos irmãos de Jesus. Muitos de nós temos dificuldade de enxergar isto por causa da herança católica que recebemos de que Maria foi sempre virgem, mas este não é o ensino bíblico. A Palavra de Deus declara que José e Maria não se envolveram fisicamente enquanto Jesus não nasceu. Veja o que diz a Escritura Sagrada:

“E José, despertando do sonho, fez o como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher, e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe o nome de Jesus”. - Mateus 1:24,25

Um outro texto bíblico menciona os nomes dos irmãos de Jesus:

“Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele”. - Marcos 6:3

A tradição católica afirma tratar-se de uma outra Maria, e que a palavra “irmão” neste texto não deveria ser entendida literalmente, mas o contexto do versículo é indiscutível: Jesus estava em Nazaré, sua cidade, no meio de conhecidos e familiares, portanto não há dúvida alguma de o reconheceram (com sua família) de fato.

Não temos os nomes de suas irmãs, mas quatro de seus irmãos são mencionados, o que nos faz saber que sua família era grande. E a Bíblia declara que seus irmãos não criam nele:

“Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui e vai para Judéia, para que também os seus discípulos vejam as obras que fazes. Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes essas coisas, manifesta-te ao mundo. Porque nem mesmo seus irmãos criam nele”. - João 7:3-5

Em outras palavras, poderíamos dizer que os irmãos de Jesus lhe diziam algo assim: - “Você não é o bom? Não quer aparecer? Então vá fazer seus sinais onde a multidão está reunida!” Posso deduzir que havia muito sarcasmo e cinismo por trás desta afirmação dos irmãos do Senhor.

Um outro texto bíblico nos revela que houve uma ocasião em que os irmãos de Cristo quiseram até mesmo prendê-lo por achar que ele estava louco:

“E foram para casa. E afluiu outra vez a multidão, de tal maneira que nem sequer podiam comer pão. E quando seus parentes ouviram isso, saíram para o prender, porque diziam: Está fora de si... Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando de fora, mandaram-no chamar”. - Marcos 3:20,21 e 31

Imagino que se houve pessoas que puderam conhecer bem a Cristo (segundo a carne), foram justamente seus irmãos. Mas só o conhecimento natural não foi suficiente para transforma-los. Em Nazaré muitos também o conheceram sem provar transformação.

REVELAÇÃO

O verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo só se atinge por revelação, não é transmitido segundo a carne. O próprio Jesus afirmou que o apóstolo Pedro só chegou a conhece-lo devido à uma revelação:

“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? E eles disseram: Uns, João batista; outros, Elias, e outros, Jeremias ou um dos profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo disse-lhe: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus”. - Mateus 16:13-17

O que Paulo não conseguiu entender com sua mente mudou quando Jesus apareceu a ele! Há muitos exemplos bíblicos e também à nossa volta que confirmam isto. Sem uma revelação acerca de Jesus alguém pode crescer dentro de uma igreja, receber toda uma formação religiosa e até saber tudo acerca de Jesus, e mesmo assim, nunca ser transformado.

TRANSFORMAÇÃO POR UM "NOVO" CONHECIMENTO

Porém, quando esta pessoa consegue sair da dimensão de mero conhecimento intelectual e entrar numa dimensão de revelação, sua vida será drasticamente mudada. Penso que esta é uma das maiores necessidades da igreja de nossos dias.

Tiago, o irmão do Senhor (Gl.1:19) é um exemplo disto. Tanto ele como seus irmãos, não criam em Jesus. Até o momento da morte de Jesus eles sustentaram esta posição, pois não os vemos mencionados nos Evangelhos como estando por lá. E ainda reforça esta idéia o fato de que Maria estava sozinha, razão pela qual Jesus confiou o cuidado dela a João (Jo.19:26).

Só que algo aconteceu depois da morte e ressurreição de Jesus. Não temos um relato detalhado, só a menção do que houve. Mas sabemos que algo aconteceu, e que isto mudou para sempre a vida de Tiago:

“Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos”. - I Coríntios 15:7

E aquele Tiago cínico que provocava Jesus, que quis prende-lo, que não cria nele, mudou completamente. Não mudou pelo conhecimento segundo a carne de toda uma vida fisicamente próximo de Jesus, mas quando provou uma revelação do Cristo ressurreto, tudo mudou! Acredito que esta revelação foi o marco desta mudança, pois ele já passou a ser mencionado entre os que estavam reunidos no Cenáculo (At.1:14) por ocasião do Pentecostes. E Tiago se tornou uma das colunas da Igreja em Jerusalém, mencionado antes mesmo de Pedro e João:

“E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que se me havia dado, deram-nos as destras, em comunhão comigo e Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios e eles, à circuncisão”. - Gálatas 2:9

Por ocasião do Concílio de Jerusalém, vemos todos falando sobre o motivo da controvérsia da circuncisão ser aplicada ou não aos gentios. Pedro fala, até Paulo se levanta com Barnabé e também falam, mas é quando Tiago se levanta e fala que o assunto se dá por encerrado e concluído. Que diferença entre o irmão de Jesus visto nos Evangelhos e este grande líder que ele veio a ser!

Ele ganhou muito respeito e admiração não por ter sido irmão do Senhor, mas certamente pela vida que vivia em Deus. Pela linguagem adotada em sua epístola, percebemos que Tiago era um homem de liderança forte e que não poupava confrontos. O motivo pelo qual Pedro foi repreendido por Paulo em Antioquia foi mudar de comportamento quando chegaram alguns da parte de Tiago:

“E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois, que chegaram, se foi se retirando e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão”. - Gálatas 2:11 e 12

Porque Pedro temeria os da parte de Tiago? Certamente pela sua liderança e influência que veio a ter entre os crentes de Jerusalém, Pedro preferia evitar confrontos com ele. Isto tudo indica o homem de Deus que Tiago passou a ser depois de ter recebido sua revelação do Cristo ressurreto.

TRANSFORMAÇÃO ESTAGNADA

Diferentemente do primeiro grupo mencionado, que nunca teve uma transformação, há muitos dentro das igrejas que tiveram uma experiência inicial de transformação. Contudo, de alguma forma, com o passar do tempo, estagnaram na fé e na experiência e não percebem mais diferença alguma em suas vidas. O que os impediu de continuarem provando a transformação?

Certamente não foi por não conhece-la, pois estas pessoas são justamente aquelas que se encontram insatisfeitas, desejosas de mudança, uma vez que já provaram-na um dia. E é preciso ressaltar que, sob circunstância alguma podemos admitir a ausência do processo de transformação, uma vez que “a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv.4:18). Ninguém é transformado instantaneamente. Algumas áreas de nossa vida podem ser impactadas e mudadas mais rapidamente, porém não será assim em todas as áreas. Se o processo de transformação estagnou, é porque a revelação de Cristo em nossa vida também estagnou.

Precisamos retomar a busca pelo conhecimento revelado em nossas vidas, pois somente assim avançaremos no processo de transformação. A palavra grega traduzida por revelação, do grego “appocalipse”, significa: “remover o véu”. Indica a remoção de um empecilho à visão que, em nosso caso, é a dificuldade de entender as coisas espirituais.

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. - I Coríntios 2:14

Somente pela ação do Espírito Santo em nossas vidas podemos penetrar esta dimensão de entendimento. Foi o que aconteceu conosco quando nos convertemos ao Senhor Jesus:

“Mas o entendimento lhes ficou endurecido. Pois até o dia de hoje, à leitura do velho pacto, permanece o mesmo véu, não lhes sendo revelado que em Cristo é ele abolido; sim, até o dia de hoje, sempre que Moisés é lido, um véu está posto sobre o coração deles. Contudo, convertendo-se um deles ao Senhor, é-lhe tirado o véu”. - II Coríntios 3:14-16

Só que, com o passar do tempo, muitos de nós nos inclinamos a uma busca de entendimento meramente intelectual (segundo a carne), e isto nos rouba o processo de transformação, que não se dá só por aquisição de informação, mas pelo impacto do Espírito Santo em nosso íntimo. Não podemos parar. Não podemos estagnar na revelação de Cristo!

CONHECIMENTO PROGRESSIVO

A Bíblia nos exorta em avançar no pleno conhecimento de Deus:

“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor...” - Oséias 6:3

Conhecer a Deus é um ato progressivo e contínuo. Veja o que Paulo declarou depois de anos de comunhão e intimidade com Cristo:

“Sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas as coisas, para que possa ganhar a Cristo... para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição e a participação dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte, para ver se de alguma forma consigo chegar à ressurreição dentre os mortos. Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas vou prosseguindo, para ver se poderei alcançar aquilo para o que fui alcançado por Cristo Jesus”. - Filipenses 3:8,10-12

Se pararmos de avançar, não alcançaremos o propósito de Deus para nossa existência. Devemos crescer até a plenitude do conhecimento de Cristo:

“Para que os seus corações sejam animados, estando unidos em amor, e enriquecidos da plenitude do entendimento para o pleno conhecimento do mistério de Deus – Cristo, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência”. - Colossenses 2:2,3

Que o Pai Celeste nos ajude a prosseguir na revelação de seu Filho Jesus!

TESTEMUNHO DE CRISTO:

Testemunhas de Cristo
//// Luciano Subirá////


“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samária, e até os confins da terra”. - Atos 1:8

Esta é uma palavra do Senhor Jesus dada aos seus apóstolos após sua ressurreição e antes de sua ascensão gloriosa. Contudo, não se limitava só a eles, é uma palavra que foi dada a toda Igreja. Como eles compunham o grupo inicial da Igreja, a receberam, mas esta palavra ainda revela o plano e vontade de Deus para todo cristão. Nenhum de nós foi ganho para Jesus para ficar sem fazer nada. Pedro exortou os cristãos em sua segunda epístola, mostrando-lhes que Deus não quer que sejamos “ociosos e infrutíferos” (II Pe.1:8). Temos uma responsabilidade a exercer. Fomos alcançados com um propósito:

“... mas vou prosseguindo, para ver se poderei alcançar aquilo para o que fui alcançado por Cristo Jesus”. - Filipenses 3:12

Paulo declarou que devemos alcançar aquilo para o qual fomos alcançados. Usamos um lema na igreja que pastoreio: “alcançados para alcançar”. Entendemos que Jesus nos alcançou não só para nos livrar da condenação eterna e nos levar para a glória celestial, mas também para que possamos cumprir Seu propósito aqui na terra, nesta vida.

Depois de nos alcançar, Deus colocou um alvo diante de cada um de nós: precisamos crescer e nos conformar com a imagem de Jesus e precisamos frutificar enquanto caminhamos dentro deste processo. O plano revelado de Jesus a Sua Igreja foi o de fazer de cada um de nós suas testemunhas. Vivemos para isto, e se nossa vida cristã não está servindo a este propósito é porque precisa ser remodelada ao padrão divino.

DEFINIÇÃO DE TESTEMUNHA

Durante muito tempo tive um conceito errado do que é ser uma testemunha de Cristo. De alguma forma, talvez pela ênfase das igrejas nesta direção, associei o verbo “testemunhar” a “pregar” ou “evangelizar”. Sei que o resultado do testemunho que os apóstolos levavam eram gente sendo evangelizada e que aproveitavam muito bem suas oportunidades de testemunhar para proclamar a palavra de Deus, mas testemunhar não é pregar nem tampouco evangelizar. Quando os líderes religiosos do judaísmo tentaram proibir os apóstolos de falarem de Jesus, a resposta dada por eles mostra que eles entendiam muito bem o significado de ser uma testemunha de Cristo:

“Pois nós não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido”. - Atos 4:20

Para eles não se tratava simplesmente de pregar, mas sim de contar tudo o que viram e ouviram. É isto que uma testemunha faz! Quando Paulo recebeu a comissão de ser uma testemunha de Cristo, foi colocado debaixo do mesmo encargo de falar daquilo que veria e ouviria:

“Porque hás de ser sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido”. - Atos 22:15

Já testemunhei em processos legais mais de uma vez, e sei muito bem porque somos intimados a falar; não se trata de uma oportunidade de emitir uma opinião sobre algo, mas sim do dever de falar estritamente daquilo que você viu e ouviu. Você expõe fatos que você viveu. Ninguém tem autoridade para testemunhar com base no que outros viram, e sim naquilo que ele próprio viu. Isto é testemunhar. Jesus não considerou seus discípulos aptos a testemunhar somente pelo fato de o terem visto ressuscitado. Isto tinha muito peso, mas não bastava. Se testemunha de Cristo fosse só quem o viu ressuscitado, então a maioria dos crentes jamais poderia cumprir este papel, pois como declarou o apóstolo Pedro:

“A quem [Jesus], sem o terdes visto, amais; no qual, sem agora o verdes, mas crendo, exultais com gozo inefável e cheio de glória”. - I Pedro 1:8

Nosso relacionamento com o Senhor Jesus Cristo é pela fé. Isto significa que podemos caminhar com Ele sem a necessidade de vê-lo e que não devemos esperar que isto aconteça com ninguém, embora Deus, em sua soberania, possa revela-lo desta forma gloriosa a alguém. Mas este não é o padrão. Então, o que Ele disse que tornaria seus discípulos aptos a testemunhar era uma experiência que se repete conosco ainda hoje! Ele disse: “recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo”. Há uma ligação entre o poder do Espírito vindo sobre minha vida e o testemunho que terei para dar, porque é justamente a ação d´Ele em minha vida que me permitirá mostrar aos outros que Jesus vive em mim. Nosso testemunho é fruto de uma “parceria” entre nós e o Espírito Santo. Não é uma tarefa unicamente nossa e nem tampouco só dele; Jesus falou sobre isto:

“Quando vier o Ajudador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade que do Pai procede, esse dará testemunho de mim; e também vós dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio”. - João 15;26,27

Veja bem, se testemunhar é falar do que vimos e ouvimos, então o que mais precisamos é que o Espírito Santo nos leve a provar o poder do Jesus ressurreto em nossa vida. Vejo este princípio aparecer também numa outra afirmação, desta vez de Pedro:

“E nós somos testemunhas destas coisas, e bem assim o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem”. - Atos 5:32

Fui batizado no Espírito Santo aos quinze anos de idade, e a conseqüência principal disto não foi apenas a de que Ele me deu autoridade para pregar, mas comecei a ter experiências com seu poder. Jesus passou a ser comprovadamente vivo em minha vida! Passei a ver o poder de Deus de diversas maneiras. Primeiro minha vida mudou e comecei a refletir o Jesus de quem eu ouvira desde criança, mas que não conseguia demonstrar em minha vida. Em segundo lugar, comecei a ver respostas às orações, livramentos, provisões e outros tantos milagres e intervenções do Senhor. Depois, algumas coisas começaram a acontecer quando eu orava por cura e libertação; as pessoas realmente eram tocadas pelo poder de Deus e eu lhes dizia: “Está vendo? Esta é a prova de que Jesus está vivo e se importa com você!”

Quando falo de Jesus para alguém, não apresento apenas o plano de salvação e a mensagem do arrependimento. Mostro, testemunhando o que Deus tem feito em minha vida, que Jesus está vivo. Quando falo que Cristo cura, conto as curas que já recebi, as que Deus operou na minha família e muito das que Ele efetuou por meu intermédio. O problema de muitos crentes hoje é que eles não tem nada para contar!

Já disse que um testemunho não é aceito quando apenas retrata algo que outro viu e ouviu. Se a polícia souber de alguém que é testemunha de um crime, não vai encher as páginas de um inquérito com o que alguém disse saber da boca da testemunha, vai chamar a própria testemunha para depor! Mas muitos crentes não testemunham de Jesus, contam apenas o testemunho de outros...

O que precisamos é do poder do Espírito atuando em nossa vida. Foi a isto que Jesus se referiu ao dizer que o poder do Espírito Santo desceria sobre nós. Precisamos buscar não só a unção para pregar, mas o poder que funciona em nossa vida. Então, quando abrirmos nossa boca, estaremos falando não só do que está escrito na Palavra de Deus, mas de como tudo aquilo se tornou real para nós!

VIVER PREGANDO X PREGAR VIVENDO

Há uma enorme diferença entre viver pregando e pregar vivendo. Alguns se tornaram pregadores de Cristo. Falam sobre Ele e o que Ele tem feito, mas não demonstram isto em suas vidas. Outros demonstram isto por meio de sua vida e dispensam até mesmo palavras:

“Semelhantemente vós, mulheres, sede submissas a vossos próprios maridos; para que também, se alguns deles não obedecem à Palavra, sejam ganhos sem palavra pelo procedimento de suas mulheres, considerando sua vida casta, em temor”. - I Pedro 3:1,2

Acredito que muitas vezes só deveríamos falar de Jesus depois que nossa própria vida conseguiu chamar a atenção dos outros. Pedro também ensinou sobre isto:

“Antes santificai a Cristo como Senhor em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós”. - I Pedro 3:15

O propósito deste ensino é despertá-lo a buscar o poder do Espírito Santo em sua vida. Sem ele, jamais chegaremos a ser o que Deus quer que sejamos: testemunhas eficazes. Somente pelo poder do Espírito é que romperemos numa vida cristã vitoriosa e frutífera. E quando isto acontecer, basta compartilharmos com outros o que nós temos vivido... Acredito que o processo de nos tornar testemunhas envolve três estágios distintos:
Primeiro o poder de Deus deve agir em nós

Depois contamos aos outros o que experimentamos

Então Deus confirma este testemunho com sinais

TESTEMUNHANDO O QUE PROVAMOS

Já falamos sobre buscar primeiramente a ação do poder de Deus em nós; agora quero falar sobre a importância de repartir isto com outros. Quando Jesus libertou o endemoninhado gadareno, aquele homem quis acompanha-lo em suas viagens e segui-lo, mas o Mestre lhe fez outra proposta:

“Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes o quanto o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti. Ele se retirou, pois, e começou a publicar em Decápolis tudo quanto lhe fizera Jesus; e todos se admiravam”. - Marcos 5:19,20

Qual era o assunto que este homem deveria abordar ao conversar com as pessoas? Sua única mensagem era dizer o que Cristo lhe havia feito e com isto comunicar o que Deus queria fazer em favor de cada um dos homens. Quando falamos daquilo que provamos o impacto é muito maior nos que nos ouvem. O mesmo se deu com aquela mulher samaritana que Jesus encontrou junto ao poço de Jacó:

“Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; será este, porventura, o Cristo? Saíram, pois, da cidade e vinham ter com ele...muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher, que testificava: Ele me disse tudo quanto tenho feito”. - João 4:28-30 e 39

No início, as pessoas foram atrás de Jesus por causa da experiência dela; depois, isto já não foi mais necessário, pois começaram a ter suas próprias experiências:

“E muitos mais creram por causa da palavra dele; e diziam à mulher: Já não é pela tua palavra que nós cremos; pois agora nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo”. - João 4:41,42

OS SINAIS QUE SE SEGUEM

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado, será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados. Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. Eles, saindo, pregaram por toda parte, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que os acompanhavam”. - Marcos 16:15-20

Deus prometeu que avalizaria nosso testemunho com mais provas ainda. Mas o processo de nos fazer testemunhas segue, como já afirmei, um ciclo. Primeiro provamos o poder de Deus e temos nossas experiências, depois as contamos. E quando testemunhamos o que provamos, Deus fará mais para aqueles que nos ouvem. O livro de Atos também nos mostra Deus honrando o testemunho dos apóstolos:

“Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça”. - Atos 4:33

Muitos cristãos têm tentado entrar direto neste estágio final sem permitir que o processo se estabeleça em sua própria vida no padrão que Deus estabeleceu. Mas nunca acontecerá assim! O estágio final é quando Deus coopera conosco (que já provamos o poder) e avaliza o testemunho com mais sinais. Foi exatamente assim que se deu com os apóstolos:

“Testificando Deus juntamente com eles, por sinais e prodígios, e por múltiplos milagres e dons do Espírito Santo, distribuídos segundo a sua vontade”. - Hebreus 2:4

É hora da Igreja romper em sinais e milagres. Mas primeiro precisamos levar os cristãos a entenderem a importância de, individualmente, experimentar o poder de Deus, para depois rompermos numa demonstração maior do poder de Deus (I Co.2:4).

Acredito que neste momento o que mais precisamos é nos voltar para o Senhor em oração, do mesmo jeito que os apóstolos fizeram no início (At.1:14). Isto desencadeará nossa própria experiência com o poder do Espírito Santo que, por sua vez, quando compartilhada, gerará ainda mais sinais para os outros. Foi assim com os apóstolos; depois de 10 dias perseverando em oração no cenáculo, foram cheios do Espírito Santo:

“E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito concedia que falassem”. - Atos 2:4

Depois, ao testemunhar de Jesus na casa de Cornélio, Pedro vê Deus avalizar seu testemunho dando àquele grupo a mesma evidência do derramar do Espírito, a ponto de Pedro comparar a experiência deles com a sua própria:

“Respondeu então Pedro: Pode alguém porventura recusar a água para que não sejam batizados estes que também, como nós, receberam o Espírito Santo?” - Atos 10:47

Tenho provado isto em minha própria vida. Os sinais e evidências que eu mesmo passei a provar ao ser cheio do Espírito Santo são reproduzidos hoje por meio de meu ministério em favor de outras pessoas. Experiências novas começaram a acontecer e demonstrar em minha vida que de fato Jesus está vivo e presente ao nosso lado todos os dias. Sem isso (mesmo tendo crescido no evangelho e sabendo expor de cor o plano de salvação) eu não seria uma testemunha eficiente.

Meu desejo é que sua vida seja um reflexo da ação do Espírito Santo, mostrando assim que Jesus Cristo de fato está vivo. Que ao pregar, você possa falar não só daquilo que você soube dele, e sim daquilo que tem provado. E se você não tem provado muito, está na hora de se despertar e cumprir com sua responsabilidade de busca-lo até que Seu poder atue em sua vida a ponto de fazer de você uma testemunha eficaz! Muitos estão adormecidos e suas vidas não refletem o propósito de seu chamado. Para estes, o Espírito Santo diz:

“Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará “. - Efésios 5:14

terça-feira, 1 de julho de 2008

COMPREENDENDO O JEJUM

Compreendendo o jejum
por Luciano Subirá


O jejum é a abstinência total ou parcial de alimentos por um período definido e propósito específico. Tem sido praticado pela humanidade em praticamente todas as épocas, nações, culturas e religiões. Pode ser com finalidade espiritual ou até mesmo medicinal, visto que o jejum traz tremendos benefícios físicos com a desintoxicação que produz no corpo. Mas nosso enfoque é o jejum bíblico.

Muitos cristãos hoje desconhecem o que a Bíblia diz acerca do jejum. Ou receberam um ensino distorcido ou não receberam ensinamento algum sobre este assunto.

Creio que a Igreja de hoje vive dividida entre dois extremos: aqueles que não dão valor algum ao jejum e aqueles que se excedem em suas ênfases sobre ele. Penso que Deus queira despertar-nos para a compreensão e prática deste princípio que, sem dúvida, é uma arma poderosa para o cristão.

Não há regras fixas na Bíblia sobre quando jejuar ou qual tipo de jejum praticar, isto é algo pessoal. Mas a prática do jejum, além de ser recomendação bíblica, traz consigo alguns princípios que devem ser entendidos e seguidos.

A BÍBLIA ORDENA O JEJUM ?

Não. No Velho Testamento, na lei de Moisés, os judeus tinham um único dia de jejum instituído: o do Dia da Expiação (Lv.23:27), que também ficou conhecido como "o dia do jejum" (Jr.36:6) e ao qual Paulo se referiu como "o jejum" (At.27:9).

Mas em todo o Velho e Novo Testamento não há uma única ordem acerca de jejuarmos. Contudo, apesar de não haver um imperativo acerca desta prática, a Bíblia esta cheia de menções ao jejum. Fala não apenas de pessoas que jejuaram e da forma como o fizeram, mas infere que nós também jejuaríamos e nos instrui na forma correta de faze-lo.

Muitos ensinadores falharam de maneira grave ao dizer que, por não haver nenhuma ordem específica para o jejum, então não devemos jejuar. Mas quando consideramos o ensino de Jesus sobre o jejum, não há como negar que o Mestre esperava que jejuássemos :

"Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuardes, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará." (Mt.6:16-18).

Embora Jesus não esteja mandando jejuar, suas palavras revelam que ele esperava de nós esta prática. Ele nos instruiu até na motivação correta que se deve ter ao jejuar. E quando disse que o Pai recompensaria a atitude correta do jejum, nos mostrou que tal prática produz resultados!

Algumas pessoas dizem que se as epístolas não dizem nada sobre jejuar é porque não é importante, e desprezam o ensino de Jesus sobre o jejum. Isto é errado! Jesus não veio ensinar os judeus a viverem bem a Velha Aliança, Ele veio instituir a Nova Aliança, e todos os seus ensinos apontavam para as práticas dos cidadãos do reino de Deus.

Quando estava para ser assunto ao céu, deu ordem aos seus apóstolos que ensinassem as pessoas a guardar TUDO o que Ele tinha ordenado (Mt.28:20), inclusive o modo correto de jejuar!

O próprio Jesus praticou o jejum, e lemos em Atos que os líderes da Igreja também o faziam. Registros históricos dos pais da igreja também revelam que o jejum continuou sendo observado como prática dos crentes muito tempo depois dos apóstolos. O jejum, portanto, deve ser parte de nossas vidas e praticado de forma equilibrada, dentro do ensino bíblico.

Embora o próprio Senhor Jesus tenha jejuado por quarenta dias e quarenta noites no deserto, e muitas vezes ficava sem comer (quer por falta de tempo ministrando ao povo - Mc.6:31, quer por passar as noites só orando sem comer - Mc.6:46), devemos reconhecer que Ele e seus discípulos não observavam o jejum dos judeus de seus dias (exceto o do dia da Expiação).

Era costume dos fariseus jejuar dois dias por semana (Lc.18:12), mas Jesus e seus discípulos não o faziam. Aliás chegaram a questionar Jesus acerca disto:

"Disseram-lhe eles: Os discípulos de João e bem assim os fariseus freqüentemente jejuam e fazem orações; os teus, entretanto, comem e bebem. Jesus, porém, lhes disse: Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto está com eles o noivo? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão." (Lc.5:33-35).

O Mestre mostrou não ser contra o jejum, e disse que depois que Ele fosse "tirado" do convívio direto com os discípulos (voltando ao céu) eles haveriam de jejuar. Jesus não se referiu ao jejum somente para os dias entre sua morte e ressurreição/reaparição aos discípulos (ao mencionar os dias que eles estariam sem o noivo), e sim aos dias a partir de sua morte.

Contudo, Jesus deixou bem claro que a prática do jejum nos moldes do que havia em seus dias não era o que Deus esperava. A motivação estava errada, as pessoas jejuavam para provar sua religiosidade e espiritualidade, e Jesus ensinou a faze-lo em secreto, sem alarde.

Sabe, o jejum pode ser uma prática vazia se não for feito de maneira correta. Isto aconteceu nos dias do Velho Testamento, quando o povo começou a indagar:
"Por que jejuamos nós, e não atentas para isto? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta?" (Is.58:3a).

E a resposta de Deus foi exatamente a de que estavam jejuando de maneira errada:
"Eis que, no dia em que jejuais, cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o vosso trabalho. Eis que jejuais para contendas e para rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto." (Is.58:3b,4).

Por outro lado, o versículo está inferindo que se observado de forma correta, Deus atentaria para isto e a voz deles seria ouvida.

O PROPÓSITO DO JEJUM

Gosto de uma afirmação de Kenneth Hagin acerca do jejum: "O jejum não muda a Deus. Ele é o mesmo antes, durante e depois de seu jejum. Mas, jejuar mudará você. Vai lhe ajudar a manter-se mais suscetível ao Espírito de Deus". O jejum não tornará Deus mais bondoso ou misericordioso para conosco, ele está ligado diretamente a nós, à nossa necessidade de romper com as barreiras e limitações da carne. O jejum deixará nosso espírito atento pois mortifica a carne e aflige nossa alma.

Jesus deixou-nos um ensino precioso acerca disto quando falava sobre o jejum:
"Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos." (Mc.2:22).

O odre era um recipiente feito com pele de animais, que era devidamente preparada mas, com o passar do tempo envelhecia e ressecava. O vinho, era o suco extraído da uva que fermentava naturalmente dentro do odre. Portanto, quando se fazia o vinho novo, era sábio colocá-lo num recipiente de pele (o odre) que não arrebentasse na hora em que o vinho começasse a fermentar, e o melhor recipiente era o odre novo.

Com essa ilustração Jesus estava ensinado-nos que o vinho novo que Ele traria (o Espírito Santo) deveria ser colocado em odres novos, e o odre (ou recipiente do vinho) é nosso corpo. A Bíblia está dizendo com isto que o jejum tem o poder de "renovar" nosso corpo. A Escritura ensina que a carne milita contra o espírito, e a melhor maneira de receber o vinho, o Espírito, é dentro de um processo de mortificação da carne.

Creio que o propósito primário do jejum é mortificar a carne, o que nos fará mais suscetíveis ao Espírito Santo. Há outros benefícios que decorrerão disto, mas esta é a essência do jejum.

Alguns acham que o jejum é uma "varinha de condão" que resolve as coisas por si mesmo, mas não podemos ter o enfoque errado. Quando jejuamos, não devemos crer NO JEJUM, e sim em Deus. A resposta às orações flui melhor quando jejuamos porque através desta prática estamos liberando nosso espírito na disputada batalha contra a carne, e por isso algumas coisas acontecem.

Por exemplo, a fé é do espírito e não da carne; portanto, ao jejuar estamos removendo o entulho da carne e liberando nossa fé para se expressar.

Quando Jesus disse aos discípulos que não puderam expulsar um demônio por falta de jejum (Mt.17:21), ele não limitou o problema somente a isto mas falou sobre a falta de fé (Mt.17:19,20) como um fator decisivo no fracasso daquela tentativa de libertação.

O jejum ajuda a liberar a fé! O que nos dá vitória sobre o inimigo é o que Cristo fez na cruz e a autoridade de seu nome. O jejum em si não me faz vencer, mas libera a fé para o combate e nos fortalece, fazendo-nos mais conscientes da autoridade que nos foi delegada.

Mas apesar do propósito central do jejum ser a mortificação da carne, vemos vários exemplos bíblicos de outros motivos para tal prática:

a) No Velho Testamento encontramos diferentes propósitos para o jejum:

Consagração – O voto do nazireado envolvia a abstinência/jejum de determinados tipos de alimentos (Nm.6:3,4);

Arrependimento de pecados – Samuel e o povo jejuando em Mispa, como sinal de arrependimento de seus pecados (I Sm.7:6, Ne.9:11);

Luto – Davi jejua em expressão de dor pela morte de Saul e Jônatas, e depois pela morte de Abner. (II Sm.1:12 e 3:35);

Aflições – Davi jejua em favor da criança que nascera de Bate-Seba, que estava doente, à morte (II Sm.12:16-23); Josafá apregoou um jejum em todo Judá quando estava sob o risco de ser vencido pelos moabitas e amonitas (II Cr.20:3);

Buscando Proteção – Esdras proclamou jejum junto ao rio Ava, pedindo a proteção e benção de Deus sobre sua viagem (Ed.8:21-23); Ester pede que seu povo jejue por ela, para proteção no seu encontro com o rei (Et.4:16);

Em situações de enfermidade – Davi jejuava e orava por outros que estavam enfermos (Sl.35:13);

Intercessão – Daniel orando por Jerusalém e seu povo (Dn.9:3, 10:2,3)

b) Nos Evangelhos

Preparação para a Batalha Espiritual – Jesus mencionou que determinadas castas só sairão por meio de oração e jejum, que trazem um maior revestimento de autoridade (Mt.17:21);

Estar com o Senhor – Ana não saía do templo, orando e jejuando freqüentemente (Lc.2:37);

Preparar-se para o Ministério – Jesus só começou seu ministério depois de ter sido cheio do Espírito Santo e se preparado em jejum (prolongado) no deserto (Lc.4:1,2);

c) Em Atos dos Apóstolos vemos a Igreja praticando o jejum em diversas situações, tais como:

Ministrar ao Senhor – Os líderes da igreja em Antioquia jejuando apenas para adorar ao Senhor (At.13:2);

Enviar ministérios – Na hora de impor as mãos e enviar ministérios comissionados (At.13:3);

Estabelecer presbíteros – Além de impor as mãos com jejum sobre os enviados, o faziam também sobre os que recebiam autoridade de governo na igreja local, o que revela que o jejum era um princípio praticado nas ordenações de ministros (At.14:23).

d) Nas Epístolas só encontramos menções de Paulo de ter jejuado (II Co.6:3-5; 11:23-27).

DIFERENTES FORMAS DE JEJUM

Há diferentes formas de jejuar. As que encontramos na Bíblia são:

a) Jejum PARCIAL. Normalmente o jejum parcial é praticado em períodos maiores ou quando a pessoa não tem condições de se abster totalmente do alimento (por causa do trabalho, por exemplo). Lemos sobre esta forma de jejum no livro de Daniel:

"Naqueles dias, eu, Daniel, pranteei durante três semanas. Manjar desejável não comi, nem carne, nem vinho entraram em minha boca, nem me ungi com óleo algum, até que se passaram as três semanas." (Dn.10:2,3).

O profeta Daniel diz exatamente o quê ficou sem ingerir: carne, vinho e manjar desejável. Provavelmente se restringiu à uma dieta de frutas e legumes, não sabemos ao certo.

O fato é que se absteve de alimentos, porém não totalmente. E embora tenha escolhido o que aparentemente seja a forma menos rigorosa de jejuar, dedicou-se à ela por três semanas.

Em outras situações Daniel parece ter feito um jejum normal (Dn.9:3), o que mostra que praticava mais de uma forma de jejum. Ao fim deste período, um anjo do Senhor veio a ele e lhe trouxe uma revelação tremenda. Declarou-lhe que desde o primeiro dia de oração o profeta já fora ouvido (v.12), mas que uma batalha estava sendo travada no reino espiritual (v.13) o que ocorreria ainda no regresso daquele anjo (v.20). Aqui aprendemos também sobre o poder que o jejum tem nos momentos de guerra espiritual.

b) Jejum NORMAL. É a abstinência de alimentos mas com ingestão de água. Foi a forma que nosso Senhor adotou ao jejuar no deserto. Cresci ouvindo sobre a necessidade de se jejuar bebendo água; meu pai dizia que no relato do evangelho não há menção de Cristo ter ficado sem beber ou ter tido sede (e ele estava num deserto!):

"Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome." (Mt.4:2).

Denominamos esta forma de jejum como normal, pois entendemos ser esta a prática mais propícia nos jejuns regulares (como o de um dia).

c) Jejum TOTAL. É abstinência de tudo, inclusive de água. Na Bíblia encontramos poucas menções de ter alguém jejuado sem água, e isto dentro de um limite: no máximo três dias.

A água não é alimento, e nosso corpo depende dela a fim de que os rins funcionem normalmente e que as toxinas não se acumulem no organismo. Há dois exemplos bíblicos deste tipo de jejum, um no Velho outro no Novo Testamento:

Ester, num momento de crise em que os judeus (como povo) estavam condenados à morte por um decreto do rei, pede a seu tio Mardoqueu que jejuem por ela:

"Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais, nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia; eu e as minhas servas também jejuaremos. Depois, irei ter com o rei, ainda que é contra a lei; se perecer, pereci." (Et.4:16).

Paulo, na sua conversão também usou esta forma de jejum, devido ao impacto da revelação que recebera:

"Esteve três dias sem ver, durante os quais nada comeu, nem bebeu."(At.9:9).

Não há qualquer outra menção de um jejum total maior do que estes (a não ser o de Moisés e Elias numa condição diferente que explicaremos adiante). A medicina adverte contra um período de mais de três dias sem água, como sendo nocivo.

Devemos cuidar do corpo ao jejuar e não agredi-lo; lembre-se de que estará lutando contra sua carne (natureza e impulsos) e não contra o seu corpo.

A DURAÇÃO DO JEJUM

Quanto tempo deve durar um jejum? A Bíblia não determina regras deste gênero, portanto cada um é livre para escolher quando, como e quanto jejua.

Vemos vários exemplos de jejuns de duração diferente nas Escrituras:

1 dia - O jejum do Dia da Expiação
3 dias - O jejum de Ester (Et.4:16) e o de Paulo (At.9:9);
7 dias - Jejum por luto pela morte de Saul (I Sm.31:13);
14 dias - Jejum involuntário de Paulo e os que com ele estavam no navio (At.27:33);
21 dias - O jejum de Daniel em favor de Jerusalém (Dn.10:3);
40 dias - O jejum do Senhor Jesus no deserto (Lc.4:1,2);

OBS: A Bíblia fala de Moisés (Ex.34:28) e Elias (I Re.19:8) jejuando períodos de quarenta dias. Porém vale ressaltar que estavam em condições especiais, sob o sobrenatural de Deus. Moisés nem sequer bebeu água nestes 40 dias, o que humanamente é impossível. Mas ele foi envolvido pela glória divina.

O mesmo se deu com Elias, que caminhou 40 dias na força do alimento que o anjo lhe trouxe. Isto é um jejum diferente que começou com um belo "depósito", uma comida celestial. Jesus, porém, fez um jejum normal com esta duração.

Muitas pessoas erram ao fazer votos ligados à duração do jejum... Não aconselho ninguém fazer um voto de quanto tempo vai jejuar, pois isso te deixará "preso" no caso de algo fugir ao seu controle. Siga o conselho bíblico:

"Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes.

Melhor é que não votes do que votes e não cumpras". (Ec.5:4,5).

É importante que haja uma intenção e um alvo quanto à duração do jejum no coração, mas não transforme isto em voto. Já intentei jejuns prolongados e no meio do caminho fui forçado a interromper.

Mas também já comecei jejuns sem a intenção de prolongá-lo e, no entanto, isto acabou acontecendo mesmo sem ter feito os planos para isto.

O JEJUM PROLONGADO

Há algo especial num jejum prolongado, mas deve ser feito sob a direção de Deus (as Escrituras mostram que Jesus foi guiado pelo Espírito ao seu jejum no deserto – Lc.4:1). Conheço irmãos que tem jejuado por trinta e até quarenta dias, embora eu, pessoalmente, não tenha feito um jejum tão longo. Cada um deles confirma ter recebido de Deus uma direção para tal.

Vale ressaltar também que certos cuidados devem ser tomados. Não podemos brincar com o nosso corpo. Uma dieta para desintoxicação do organismo antes do jejum é recomendada, e também na quebra do jejum prolongado (mais de 3 dias).

Procure orientação e acompanhamento médico se o Senhor lhe dirigir a um jejum deste gênero. Há muita instrução na forma de literatura que também pode ser adquirida.

PODEMOS FALAR QUE ESTAMOS JEJUANDO ?

Algumas pessoas são extremistas quanto a discrição do jejum, enquanto outras, à semelhança dos fariseus, tocam trombeta diante de si.

Em Mateus 6:16-18, Jesus condena o exibicionismo dos fariseus querendo parecer contristados aos homens para atestar sua espiritualidade.

Ele não proibiu de se comentar sobre o jejum, senão a própria Bíblia estaria violando isto ao contar o jejum que Jesus fez... Como souberam que Cristo (que estava sozinho no deserto) fez um jejum de quarenta dias? Certamente porque Ele contou!

Não saiu alardeando perante todo mundo, mas discretamente repartiu sua experiência com os seus discípulos.

Eu, particularmente, comecei a jejuar estimulado pelo relato das experiências de outros irmãos. Depois é que comecei (aos poucos) a entender o ensino bíblico sobre o jejum. E louvo a Deus pelas pessoas que me estimularam!

Sabe, precisamos tomar cuidado com determinadas pessoas que não tem o que acrescentar à nossa edificação e somente atacam e criticam.

Lembro-me que o primeiro jejum que fiz na minha adolescência: cortei só o almoço mas tomei um refrigerante para não "sofrer" muito; fiz isto para orar por um amigo que queria ver batizado no Espírito Santo. Aquele rapaz já havia recebido tanta oração, mas nada havia acontecido ainda.

Portanto, jejuei e orei em seu favor. Hoje sei que não foi grande coisa mas, na época, foi o meu melhor. Pois bem, alguém ficou sabendo e me ridicularizou, disse que jejum de verdade era ficar o dia todo sem comer nada e bebendo no máximo um pouco de água; esta pessoa disse que eu estava perdendo meu tempo e que só fizera um "regimezinho", pois o verdadeiro jejum não admitia nem bala açucarada na boca, quanto mais um refrigerante!... mas naquele dia meu amigo foi cheio do Espírito Santo e preferi acreditar que o jejum funcionava.

Depois ouvi outros irmãos comentarem sobre jejuar mais de um dia e "fui atrás" , e assim, aos poucos, fui aprendendo (a jejuar e sobre o jejum) aquilo que não aprendi na igreja ou na literatura cristã. Penso que de forma sábia e cuidadosa podemos estimular outros à prática do jejum, basta partilharmos nossas experiências e incentiva-los.

CONCLUINDO

Haverá períodos em que o Espírito Santo vai nos atrair mais para o jejum, e épocas em que quase não sentiremos a necessidade de faze-lo. Já passei anos sem receber nenhum impulso especial para jejuns de mais de três dias e, mesmos estes, foram poucos.

E houve épocas em que, seguidamente sentia a necessidade de faze-lo. Porém, penso que o jejum normal de um dia de duração é algo que os cristãos deveriam praticar mais, mesmo sem sentir nenhuma "urgência" espiritual para isto.

Quando meu filho Israel estava para nascer, o Senhor trouxe um profundo peso de oração e intercessão ao meu coração. Sabia que devia jejuar; era uma "urgência" dentro de mim.

Não ouvi uma voz sobrenatural, não tive nenhuma visão ou sonho a respeito, simplesmente sabia que tinha de jejuar até romper algo, e o fiz por seis dias. Ao final soube que havia alcançado uma vitória.

Na ocasião do parto, minha esposa teve uma complicação e quase perdemos nosso primeiro filho; contudo, a batalha já havia sido ganha e o poder de Deus prevaleceu. Devemos ser sensíveis e seguir os impulsos do Espírito de Deus nesta área.

Isto vale não só para começar a jejuar mas até para quebrar o jejum. Já fiz jejuns que queria prolongar mais e senti que não deveria faze-lo, pois a motivação já não era mais a mesma...

Encerro desafiando-o a praticar mais o jejum, e certamente você descobrirá que o poder desta arma que o Senhor nos deu é difícil de se medir com palavras. A experiência fortalecerá aquilo que temos dito. Que o Senhor seja contigo e te guie nesta prática!

sábado, 14 de junho de 2008

TU ME AMAS? AMOR AO SENHOR

//// Luciano Subirá ////

No ano de 1994 Deus falou comigo de uma forma diferente. Eu era ainda novo no ministério, com apenas alguns poucos de experiência como pregador. Ainda era solteiro e na ocasião morava na cidade de Guarapuava, no Estado do Paraná, onde por nove anos auxiliei no estabelecimento e pastoreamento da Comunidade Vida. Era uma quinta-feira, e tudo começou durante um delicioso almoço que eu havia desfrutado na casa de dois irmãos queridos: Barbosa e Dirlei. A irmã Dirlei disse que sua filha Tássia havia tido um sonho muito impactante naquela noite, e queria que ela pudesse compartilhar comigo; na ocasião ela tinha apenas sete anos. Ressaltou que ela quase não havia conseguido compartilhar com eles, pois se emocionava ao lembrar a experiência e tentar contá-la.

Lutando contra o choro, aquela menina contou que havia sonhado com um de nossos cultos, e vira quando eu subira à plataforma para pregar. Naquele momento ela viu o telhado de zinco do barracão onde nos reuníamos ser enrolado e se abrir, bem como os céus acima de nós. Então ela viu o Senhor Jesus descer dos céus até o púlpito da igreja. E de forma gentil Ele me abraçou e disse que eu poderia me sentar porque Ele é quem pregaria para a igreja naquela noite.

Tento imaginar o que foi esta experiência para aquela irmãzinha na ocasião. Eu que não sonhei nada, apenas a ouvi, fui envolvido por uma indescritível sensação da presença de Deus.

Teríamos um culto naquela noite e eu sabia que a mensagem não era literal, mas sabia que Deus estava tentando falar comigo. Quase não suportei esperar a hora de chegar em casa para orar e buscar ao Senhor, e quando o fiz, fui muito visitado pelo Senhor. Sabia que Deus queria fazer algo diferente naquele dia. Foi então que, entre lágrimas e soluços supliquei ao Senhor que me ajudasse a entender o que estava acontecendo e o que ele queria me falar com aquilo. E ouvi o Espírito Santo dizendo claramente que eu deveria deixar de lado a mensagem que havia preparado, pois Ele queria falar com a igreja algo muito específico. Me fez entender que a mensagem do sonho não era a de que eu deveria me sentar literalmente, mas deixar de lado o que eu queria falar para que Ele pudesse falar com sua igreja.

Decidi de imediato abandonar o esboço que se encontrava pronto e questionei o que Deus queria comunicar naquela noite. Então ouvi o Espírito Santo falando pela segunda vez de uma forma muito clara: "Estou tentando falar com a minha Igreja desde o culto de domingo e vocês não me permitiram".

Nesta hora, as escamas caíram de meus olhos e pude ver e entender tudo tão claramente. Era quinta-feira. Tivemos o culto de domingo à noite e uma reunião na terça-feira à tarde, e esta seria nossa terceira reunião naquela semana. No fim da reunião de terça-feira à tarde, a irmã Maria, que estava conosco desde o início da igreja havia me contado uma experiência incomum.

Relatou-me que no culto de domingo tivera uma visão fantástica. Apesar de estar com seus olhos abertos e todos os sentidos funcionando normalmente, viu o teto de zinco do barracão onde a igreja encontrava-se instalada naquele tempo ser enrolado para os lados e então viu o céu também se abrir e viu uma pessoa gloriosa. Seu rosto brilhava como o sol e ela não podia ver sua forma, pois era difícil contemplar aquele brilho. Viu também que ele estava envolvido em chamas até a altura de sua cintura e rodeado de anjos. Um de seus braços se encontrava estendido para o lado e pela cicatriz em sua mão ela soube para quem estava olhando. Com a outra mão estendida em direção da igreja, e com o dedo em riste ele perguntava em alta voz: "Tu me amas?"

Repetiu este ato por três vezes seguidas e sua voz parecia um trovão. A irmã Maria disse que achou que todos viam e ouviam o que ela estava presenciando, mas como percebeu que todos reagiam normalmente como em qualquer outra reunião, entendeu se tratar de uma visão. Ela ficou tão impactada que sequer teve coragem de falar a respeito da experiência. Suas forças sumiram e praticamente ficou de cama até nosso culto da terça-feira à tarde, ao fim do qual me contou a visão. Perguntei-lhe se entendia que aquela mensagem era só para ela ou se era para toda a igreja. Ela estava convicta de que era para toda a igreja. Chamei-lhe a atenção por não ter falado nada antes, pois duas reuniões haviam se passado sem que pudéssemos compartilhar com a igreja.

Mas apesar de ter lhe chamado a atenção, não pedi que ela falasse nada na próxima reunião e nem sequer orei sobre isto. Não entendo como pude ser tão insensível, mas fui. Amo o mover profético na igreja e creio no fluir dos dons do Espírito Santo para a edificação do corpo, mas confesso que não sei porque não pensei mais naquilo. Não é todo dia que pessoas recebem de Deus uma visão aberta e sonham desta forma. Mas mesmo diante de tudo isto, demorei tanto para entender o que o Senhor queria falar. Isto tem me ensinado que nem sempre estamos tão receptivos ao Espírito Santo como achamos estar. Então chegou a quinta-feira, dois dias depois de ter ouvido sobre aquela visão aberta. E agora havia uma nova visão me chamando a atenção para o fato de que o Senhor queria falar com a sua igreja.

Hoje, ao olhar para trás e me lembrar destas experiências, sinto-me como os discípulos no caminho de Emáus. E me pergunto: como não vi e entendi antes o que o Senhor estava tentando nos dizer? Mas sob uma forte visitação do Espírito Santo percebi naquela quinta-feira à tarde que aquele era um momento profético de correção e ensino para mim a para toda a igreja. E questionei: "Pai querido, o que o Senhor quer falar com sua igreja?"

E novamente fui surpreendido pela clareza da voz do Espírito Santo. Deixe-me dizer que não experimento isto sempre; esta foi uma forma incomum de ouvir ao Senhor e receber um esboço de mensagem. Mas foi assim que aconteceu. Ele me perguntou qual texto da Escritura Sagrada me vinha à mente ao recordar a visão que a irmã Maria tivera. Abri em João 21 onde Jesus fala assim com Pedro e li o texto várias vezes, mas não conseguia entender o que havia ali. Então o Espírito Santo me mandou alistar três tópicos na folha de papel que trazia à mão, e falou comigo como nunca falara antes.

Cheguei a ter algumas experiências parecidas nestes últimos nove anos, mas foram poucas. E isto me fez entender a importância do assunto e a natureza da comissão que ele me dava: repartir isto com a sua igreja. Nestes anos que se seguiram preguei sobre o assunto poucas vezes e só agora sinto que chegou o tempo de escrever e compartilhar isto com a Igreja do Senhor de forma mais abrangente.

Estou certo de que Deus falará ao seu coração. Esta não é só uma palavra de ensino, é um chamado profético de Deus à sua Igreja. Portanto, “quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2.29). Naquele dia o Senhor falou muito comigo sobre o nosso amor para com Ele. E tudo começou a partir deste texto bíblico:

“Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas”. (João 21.15-17)

Nesta ocasião Ele me deu três princípios extraídos desta conversa que teve com Pedro, transcrita nos versículos acima:

Necessidade de auto-avaliação
O amor pode crescer
O amor se expressa em ações
Nas próximas páginas quero falar um pouco sobre cada um deles.

A NECESSIDADE DE AUTO-AVALIAÇÃO

O primeiro princípio que o Senhor me mostrou naquele dia foi que todos temos a necessidade de passar por uma sincera auto-avaliação de nosso amor. Por que o Senhor pergunta por três vezes sobre o mesmo assunto?

Na verdade, Jesus não precisava perguntar acerca de coisa nenhuma, visto que após sua ressurreição e conseqüente glorificação, o atributo da onisciência do qual Cristo se despira temporariamente voltara a operar em plenitude na sua vida. Então, se sabia todas as coisas e ainda assim questionou a Pedro, concluímos que o fez não por necessidade da resposta, mas para conduzir o apóstolo a uma sincera auto-avaliação.

Creio que o que o Senhor queria era justamente isto; levar Pedro a olhar dentro de si mesmo e reconhecer onde ele estava em relação ao seu amor a Cristo. Muitas vezes podemos até nos enganar em nosso julgamento, sobre o quanto amamos ao Senhor. O profeta Jeremias declarou, pelo Espírito Santo:

“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17.9)

Vemos isto de forma específica na vida do apóstolo Pedro; ele achava que seu amor por Jesus era muito maior do que aquilo que veio a demonstrar depois. Pelas promessas que fez (e não cumpriu) percebemos que ele estava enganado acerca do amor que achava ter pelo Senhor:

“Então, lhes disse Jesus: Todos vós vos escanda-lizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas. Mas, depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galiléia. Disse-lhe Pedro: Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais! Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. Mas ele insistia com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. Assim disseram todos.” (Marcos 14.27-31)

“Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!” Você percebe esta mentalidade em Pedro? Ele se achava tremendamente fiel ao Senhor, mas estava prestes a descobrir que não era tudo o que pensava ser. E embora nosso enfoque esteja em Pedro, que se achou melhor que os outros, note que cada um deles disse que se preciso fosse morreria com Jesus. Eles realmente acreditavam em sua espiritualidade e fidelidade!

Mas na hora em que Cristo foi preso, todos fugiram (Mc 14.50). Nenhum deles ficou por perto. Mesmo não abandonando completamente a Jesus, Pedro permaneceu à distância, de onde pudesse satisfazer sua curiosidade do que viria a ocorrer, mas ao mesmo tempo salvar sua pele.

“Pedro seguira-o de longe até ao interior do pátio do sumo sacerdote e estava assentado entre os serventuários, aquentando-se ao fogo.” (Marcos 14.54)

E foi este distanciamento que o levou ao passo seguinte, já antes profetizado pelo Mestre: negar a Jesus.

“Estando Pedro embaixo no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote e, vendo a Pedro, que se aquentava, fixou-o e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno. Mas ele o negou, dizendo: Não o conheço, nem compreendo o que dizes. E saiu para o alpendre. [E o galo cantou.] E a criada, vendo-o, tornou a dizer aos circunstantes: Este é um deles. Mas ele outra vez o negou. E, pouco depois, os que ali estavam disseram a Pedro: Verdadeiramente, és um deles, porque também tu és galileu. Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais! E logo cantou o galo pela segunda vez. Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. E, caindo em si, desatou a chorar.” (Marcos 14.67-72)

Mateus declara em seu evangelho que Pedro chorou amargamente. Marcos enfatiza que ele irrompeu em prantos assim que “caiu em si”. O fato dele ter caído em si quando o galo cantou, mostra que até então estava um pouco fora de si. Nosso coração muitas vezes nos engana, levando-nos a achar que amamos mais do que realmente amamos. Pedro havia fantasiado seu amor e fidelidade ao Senhor; construíra também um sentimento de grandeza em si, e de repente tudo foi para o chão. Ele descobriu que não era tão forte assim; descobriu também que há uma grande distância entre o que achamos ser e o que de fato somos. É por isso que o Novo Testamento enfatiza muito o cuidado para que não nos enganemos a nós mesmos. Na carta aos romanos, Paulo declarou: “...digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém, antes, pense com moderação...” (Rm 12.3).

Uma avaliação superficial talvez não nos leve a compreender quão falho ainda é o nosso amor. E não enxergando nossa fragilidade, estamos impedidos de crescer e buscar a maturidade. Examine seu coração. Peça ao Espírito Santo que lhe mostre onde você realmente se encontra no que tange ao amor ao Senhor.

O AMOR PODE CRESCER

O segundo princípio que o Senhor me mostrou naquele dia foi que nosso amor pode crescer. Descobrir nosso aspecto falho nesta matéria não deve nos levar a um lugar de culpa ou condenação, e sim de estímulo ao crescimento. Quando reconhecemos a distância a que estamos do alvo, devemos nos sentir ainda mais impulsionados a alcançá-lo.

Lembre-se que antes Simão Pedro achava que amava ao Senhor Jesus à ponto de dar sua própria vida por Ele, e de repente veio a descobrir que não era tudo o que pensava ser e nem tampouco amava tanto quanto achava. E depois de sua decepção, Pedro passa a achar que não amava tanto o Senhor; é dentro deste dilema vivido pelo apóstolo, que Cristo o leva a examinar-se a si mesmo e localizar-se espiritualmente onde ele verdadeiramente estava quanto ao seu amor.

Vemos isto na maneira como as perguntas lhe foram feitas pelo Senhor e pela promessa que ele lhe fez depois delas. Há um jogo de palavras no original grego que não percebemos na tradução do Português; trata-se da palavra “amor”. O grego usa palavras diferentes para conotar expressões diferentes do amor; se a referência ao amor é física, sexual, então a palavra grega empregada é “eros”; se a conotação do amor for fraternal, então é “fileo”; e quando trata-se um amor perfeito, intenso, do tipo de Deus, a palavra usada é “ágape”. No português não temos este tipo de distinção; contudo, Jesus usou diferentes tipos de palavras na conversa com Pedro.

Na primeira pergunta, Ele diz: "Tu me amas (ágape)?"

E Pedro lhe responde: "Tu sabes que te amo (fileo)."

Na segunda vez se dá o mesmo, Jesus pergunta se Pedro o ama no nível mais alto de amor – ágape – e Pedro reconhece que ama, mas nem tanto: seu amor era só fileo. Como não consegue levar Pedro ao seu nível, Jesus desce ao dele e na terceira vez lhe pergunta: "Tu me amas (fileo)?"

E então Pedro diz: "Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo (fileo)."

É como se por mais uma vez ele afirmasse: "O meu amor não vai além disto e eu não quero me enganar de novo."

Portanto para as perguntas de Jesus a Pedro: “Você me ama?”, as respostas foram: “Senhor, você sabe que eu gosto de você”. Mas a beleza desta conversa está no fato de que, ainda que Jesus não tenha ouvido da boca de Pedro que ele o amasse a ponto de morrer, o Mestre afirma que Pedro ainda viria a glorificar a Deus através de sua morte:

“Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias: mas, quando já fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde tu não queiras. E disse isso significando com que morte havia ele de glorificar a Deus. E, dito isso, disse-lhe: Segue-me”. (João 21.18,19)

Ao dizer a Pedro que ele morreria, Jesus estava declarando que chegaria o dia em que ele amaria tanto ao Senhor como achou que amava no começo. E nesta promessa de que Pedro daria sua vida por Ele, Jesus declarou até mesmo que tipo de morte seria; o apóstolo estenderia suas mãos, um tipo de morte comum nos dias do Império romano: a crucificação. E a tradição diz que quando o imperador Nero mandou crucificá-lo (entre 64 a 67 d.c.), Pedro teria dito: "Não sou digno de morrer como o meu Senhor." E então teria pedido que o crucificassem de cabeça para baixo, o quê, se de fato ocorreu, foi uma demonstração ainda maior de amor a Jesus Cristo.

Durante muito tempo achei que Jesus fez as três perguntas a Simão Pedro como uma forma de dar a ele a chance de consertar suas três negações. Mas ao examinar este jogo de palavras, vemos que o Senhor, além de levar o apóstolo à conclusão de que ainda não amava o quanto devia, inspira-o também a crer que chegaria o momento em que atingiria esta maturidade.

É importante destacar isto: o Senhor acredita em nós mais do que nós mesmos! Ele vê nosso potencial de sucesso quando só enxergamos nossas falhas. Ele vê nosso futuro quando só nos prendemos ao nosso passado. Ele consegue dizer a cada um de nós quando falhamos em expressar nosso amor a Ele: "Eu acredito que você ainda vai chegar lá".

Assim como Pedro teve sua chama de esperança acesa, também o devemos ter. Mesmo que nosso coração ainda não esteja no nível de amor que deveria, podemos nos mover decididos ao crescimento deste amor!

O AMOR SE EXPRESSA EM AÇÕES

O terceiro princípio que o Senhor me mostrou naquele dia foi que o verdadeiro amor não se limita apenas a palavras, mas se expressa em ações. O apóstolo João ecreveu acerca disto:

“Mas aquele que tiver bens do mundo e vir seu irmão em necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como permanece nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra nem de língua, mas por obras e em verdade”. (1 João 3.17,18)

Em outras palavras, João estava dizendo que só falar de amor ao irmão é fácil, mas temos que demonstrar por nossas obras a veracidade do que falamos. Nossas ações devem fazer coro com nossas afirmações. E isto não apenas no que tange ao amor ao próximo, mas principalmente no que diz respeito ao nosso amor pelo Senhor. Só declararmos e cantarmos acerca deste amor não é suficiente. O Senhor Jesus protestou a respeito:

“Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram”... (Marcos 7.6,7)

Não adianta ter uma declaração de amor nos lábios e o coração e atitude não estarem em harmonia. O amor deve se expressar por meio de ações.

Na conversa de Jesus com Pedro acerca do amor ao senhor vemos algo interessante. Depois de cada pergunta do Mestre, com conseqüentes respostas de afirmação de amor de Pedro, o Senhor lhe pediu que apascentasse suas ovelhas. Por quê? Porque quem ama, trabalha! Seria o equivalente a declarar: "Se você me ama, ame o que eu também amo e faça algo para mim".

Quem ama age como tal. Expressa isto em ações de louvor e gratidão, de serviço e muito mais. Precisamos entender este princípio e aprender a expressar nosso amor ao Senhor não só por meio de palavras ou de canções de adoração, mas por meio de trabalho.

O exercício do ministério é uma manifestação de amor ao Senhor Jesus Cristo. Em função disto, não entendo como tantos crentes conseguem apenas “esquentar os bancos” (ou cadeiras) de uma igreja. Somos parte de uma geração que não quer servir, somente ser servida! Sei que o serviço não é mais importante que estar com o Senhor e desfrutar de sua presença; Marta que o diga (Lc 10.41,42)! Entretanto, deveríamos dizer que embora não substitui o estar com o Senhor, é um bom complemento ou atividade subseqüente para expressar nosso amor.

Você está engajado na obra do Senhor? Não falo sobre o ministério em tempo integral, mas acerca do cristianismo em tempo integral! Você procura ganhar almas para Cristo? Ajuda a cuidar delas de alguma forma? Participa de algum ministério em sua igreja? Procura servir, ainda que seja naquelas coisas aparentemente mais simples?

A Igreja jamais cumprirá a grande comissão se o Corpo não for mobilizado ao trabalho. A idéia antiga de um pequeno clero trabalhando em prol dos leigos precisa ser definitivamente banida! Jesus morreu para nos salvar e nos transformar em ministros (sacerdotes):

“E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de receber o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e compraste para Deus com o teu sangue homens de toda a tribo, e língua, e povo e nação, e lhes fizeste para nosso Deus reino e sacerdotes, e reinarão sobre a terra”. (Apocalipse 5.9,10)

Examine sua própria vida e procure sua expressão de amor na forma de serviço, de ministério. Se isto não está acontecendo, algo tem que mudar. Ou seu amor por Jesus ainda é pouco expressivo e precisa ser fortalecido, ou você, apesar de todo seu amor por Cristo, não tem sabido expressá-lo direito e precisa começar a servir.

O DÍZIMO E A REDENÇÃO

O Dízimo e a Redenção
////por Luciano Subirá ////

É impossível discutir a fundo as questões de vida financeira e de contribuição ao Senhor sem entender o que é a redenção. No livro do profeta Malaquias, no clássico texto a respeito do dízimo, encontramos este nível de abordagem. Quando fala da retenção dos dízimos e ofertas, Deus chama isto de roubo:

“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda”. - Malaquias 3:8,9

Uma abordagem do ponto de vista jurídico diria que o assunto abordado por Deus é uma questão de propriedade. Legalmente falando, envolve posse. E não há como falar de coisas que dizem respeito à propriedade de Deus, sem estudar antes a lei da redenção.

Entendendo a Redenção

Para muitos cristãos, a palavra “redenção” não significa nada mais do que “perdão dos pecados” ou “salvação”. Mas seu significado vai muito além disto. A palavra “redenção” significa “resgate” ou “remissão”. Fala de readquirir uma propriedade perdida. Antes de Deus estabelecer algumas verdades no Novo Testamento, deixou que elas fossem ilustradas no Velho Testamento:

“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem”. - Hebreus 10:1(TB)

A sombra é diferente da imagem real que a projeta. Assim também, o que se via nas ordenanças da Velha Aliança eram características similares (em ordenanças literais) às dos princípios que Deus revelaria nos dias da Nova Aliança (práticas espirituais). A circuncisão deixou de ser literal e passou a ser uma experiência no coração (Rm.2:28,29). A serpente que Moisés levantou no deserto se tornou uma figura da obra de Cristo na cruz (Jo.3:14). Assim também, outros detalhes da Lei que envolvia comida, bebida e dias de festa, começaram a ser vistos não como ordenanças literais pelas quais quem não as praticassem pudessem ser julgados, mas como uma revelação de princípios espirituais, cabíveis na Nova Aliança:

“Ninguém, portanto, vos julgue pelo comer, nem pelo beber, nem a respeito de um dia de festa, ou de lua nova ou de sábado, as quais coisas são sombras das vindouras, mas o corpo é de Cristo”. - Colossenses 2:16,17

É desta forma que precisamos olhar para a lei da redenção no Velho Testamento. Durante anos Deus fez o povo praticar uma encenação do que Ele mesmo um dia faria conosco. Foi assim com o sacrifício do cordeiro que os israelitas repetiam anualmente em várias cerimônias; por fim, vemos João Batista apontando para Jesus e dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo.1:29). Paulo se referiu a Jesus como o cordeiro pascal (I Co.5:7). Vemos nestas passagens que as práticas repetidas por centenas e centenas de anos visavam leva-los a entender uma figura que só seria revelada posteriormente. Com a redenção não foi diferente.

O livro de Rute nos mostra Boaz resgatando (ou redimindo) as propriedades de Noemi. Ele estava readquirindo uma posse perdida. Toda dívida tinha que ser paga. Se uma pessoa não tinha recursos para honrar seus compromissos, deveria dar seus bens em pagamento. Se estes não fossem suficientes, deveria entregar também suas terras. E se estas ainda não bastassem para a quitação da dívida, a própria pessoa (e às vezes até a família) deveria ser dada como pagamento. Isto faria dela um escravo. Lemos em II Reis 4 que uma mulher viúva, que fora casada com um dos filhos dos profetas, teria seus filhos sendo levados como escravos se não pagasse a dívida. E quando isto acontecia com alguém, só havia duas formas desta pessoa sair da condição de escravidão: ou alguém pagava sua dívida (um redentor) ou ela esperava nesta condição até que o Ano do Jubileu chegasse (que se repetia a cada cinqüenta anos). Veja o que a lei mosaica dizia acerca disto:

"Se teu irmão empobrecer e vender alguma parte das suas possessões, então, virá o seu resgatador, seu parente, e resgatará o que seu irmão vendeu. Se alguém não tiver resgatador, porém vier a tornar-se próspero e achar o bastante com que a remir, então, contará os anos desde a sua venda, e o que ficar restituirá ao homem a quem vendeu, e tornará à sua possessão. Mas, se as suas posses não lhe permitirem reavê-la, então, a que for vendida ficará na mão do comprador até ao Ano do Jubileu; porém, no Ano do Jubileu, sairá do poder deste, e aquele tornará à sua possessão”. - Levítico 25:25-28

Neste texto, que fala só da perda da terra e não da escravidão, vemos que havia três formas de recuperá-la:
1) a redenção (o pagamento feito por um parente);
2) sua própria condição de pagar se viesse a prosperar (o que não ocorria no caso dos escravos);
3) ou a liberdade proclamada no Ano do Jubileu.

Para o escravo, porém, só havia duas formas de ser livre: O Jubileu ou a redenção. A redenção era o pagamento da dívida feito por um parente próximo. Por meio do pagamento ele comprava de volta aquilo que se perdera. Então a pessoa que fora escravizada deixava de pertencer a quem antes ela devia. Por exemplo, se eu me endividasse a ponto de perder todas as minhas posses e ainda ser levado escravo, e meu irmão me resgatasse, eu não deixaria de ser escravo, eu só mudaria de amo. Passaria agora a ser escravo de meu irmão, porque ele me comprara... E qual o proveito disto? De que adiantava ser livre de um para se tornar escravo de outro? A diferença era que o novo dono era um parente que pagara aquela dívida por amor (um escravo normalmente não valia tanto), e justamente por causa de seu amor trataria o escravo com brandura, com misericórdia.

O Que Cristo Fez Por Nós

Foi exatamente isto que Jesus fez por nós. Cristo nos comprou para Deus através de sua morte na cruz:

“...porque foste morto e com teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra”. - Apocalipse 5:9b,10

O homem foi feito escravo de Satanás quando se rendeu ao pecado no Jardim do Éden. A Bíblia declara que quem é vencido em algo se torna escravo daquele que o vence (II Pe.2:19), e foi isto que ocorreu ao primeiro casal. Foram separados da glória de Deus. Perderam a filiação divina; Adão foi chamado filho de Deus (Lc.3:38), mas esta condição não foi mantida. Quando Jesus veio ao mundo foi chamado de filho único de Deus (Jo.3:16); mas ele veio mudar esta condição e passou a ser o primogênito de muitos irmãos (Rm.8:29). O Diabo se assenhoreou do homem a da Terra, que fora dada ao homem (Sl.115:16), e afirmou isto para Jesus na tentação do deserto (Lc.4:6). Mas Jesus veio pagar a nossa dívida do pecado, e ao fazê-lo, garantiu nossa libertação das mãos de Satanás:

“Ele nos resgatou do poder das trevas e nos trasladou para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a nossa redenção, a remissão dos nossos pecados”. - Colossenses 1:13,14 (TB)

Observe o termo “resgatou”, que aparece quando o apóstolo está falando de ser tirado do reino das trevas e ser levado para o reino do Filho de Deus. Depois, afirma: no qual temos a nossa “redenção”! A redenção foi o ato de compra pelo pagamento da dívida do pecado:

“tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz; e tendo despojado os principados e potestades, os exibiu abertamente, triunfando deles na mesma cruz”. - Colossenses 2:14,15 (TB)

O texto sagrado revela que Jesus despojou os príncipes malignos. Segundo o Dicionário Aurélio, despojar significa: “Privar da posse; espoliar, desapossar”. Isto nos faz questionar o quê, exatamente, Jesus tirou destes principados malignos. O que eles possuíam que pudesse interessá-lo? Nada, a não ser o senhorio sobre nossas vidas! O despojo somos nós, que fomos comprados por Ele para Deus e a partir de então passamos a ser propriedade de Deus. É exatamente assim que as Escrituras se referem a nós. Somos chamados de propriedade de Deus:

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. - I Pedro 2:9

Repetidas vezes encontraremos a ênfase de que Cristo nos comprou para si. E o preço foi o seu próprio sangue.

“sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”. - I Pedro 1:18,19

Portanto, quando Jesus nos comprou, livrou-nos da escravidão do Diabo, mas nos fez escravos de Deus! Coisa alguma que possuímos é, de fato, nossa exclusivamente. Nem nossa própria vida pertence a nós mesmos! Somos propriedade de Deus. Ele é o nosso dono. Conseqüentemente, tudo o que nos pertence, também é dele! Referindo-se ao Espírito Santo em nós, Paulo o chamou de “o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus” (Ef.1:14 - ARC). Observe que o termo herança aparece associado aos termo “redenção” e “possessão” pois é disto que o princípio de redenção sempre trata: o resgate da propriedade.

Celebrando a Redenção

A consciência da redenção deve provocar em nós uma atitude de gratidão e de culto Deus. Paulo falou sobre vivermos uma vida de santidade que é fruto desta consciência de redenção:

“Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”. - I Coríntios 6:18-20 (ARC)

O apóstolo deixa claro, em três distintas frases, a ênfase de que somos propriedade de Deus. Primeiro ele afirma que não somos de nós mesmos. Depois declara que fomos comprados - e por um bom preço. E finalmente diz que nosso corpo e espírito pertencem (verbo que indica possessão) a Deus. Portanto, separar-se do pecado e santificar-se para Deus é glorificá-lo por meio do corpo. Não é um culto de palavras, mas não deixa de ser uma exaltação.

Celebramos a redenção não só por meio de cânticos, mas de atitudes. Quando reconhecemos que Deus comprou nosso corpo e cuidamos dele com a consciência de que é de Deus, este cuidado é um ato de glorificação ao Senhor. Da mesma forma, há culto expresso não só por meio de palavras, mas por nossas atitudes em relação a nossas finanças. Assim como Deus redimiu nosso corpo, redimiu também nossos bens. Logo, da mesma forma como usar bem o corpo (em santidade) glorifica a Deus, usar bem os recursos financeiros que são de Deus também o glorifica!

A Simbologia do Que José Fez

José comprou para Faraó todo o povo egípcio:

“Findo aquele ano, vieram a José no ano seguinte e disseram-lhe: Não ocultaremos ao meu senhor que o nosso dinheiro está todo gasto; as manadas de gado já pertencem a meu senhor; e nada resta diante de meu senhor, senão o nosso corpo e a nossa terra; por que morreremos diante dos teus olhos, tanto nós como a nossa terra? Compra-nos a nós e a nossa terra em troca de pão, e nós e a nossa terra seremos servos de Faraó; dá-nos também semente, para que vivamos e não morramos, e para que a terra não fique desolada. Então disse José ao povo: Hoje vos tenho comprado a vós e a vossa terra para Faraó; eis aí tendes semente para vós, para que semeeis a terra”. - Gênesis 47:18,19,23

O que aconteceu com este povo? Deixaram de pertencer a si mesmos e passaram a pertencer a Faraó. Seu gado, suas casas, suas terras, tudo pertencia ao rei do Egito. Eles se tornaram servos de Faraó cuidando do que era dele. O que Cristo fez conosco por meio de seu sacrifício na cruz foi algo semelhante. Isto é o que significa redenção. Originalmente éramos propriedade de Deus, mas a condição que a queda e o pecado trouxeram nos roubaram disto. E quando Cristo pagou o preço da nossa dívida, ele nos remiu da mão daquele que havia se tornado nosso dono, o Diabo.

Quando declaramos que somos servos de Deus, estamos reconhecendo que não somos de nós mesmos, e que tudo o que temos na verdade pertence ao Senhor. Somos apenas mordomos de algo que não é nosso. Não nos atolaríamos em dívidas, geradas em caprichos e excessos se andássemos com esta mentalidade. Se cada vez que fôssemos tomar decisões na área financeira, o fizéssemos com a consciência de que os recursos empregados pertencem ao Senhor, cometeríamos menos erros.

Quando José comprou aqueles egípcios para Faraó, tudo o que era deles passou a ser de Faraó; logo, toda renda deles deveria ir para Faraó. Mas o que fez o rei egípcio com o povo? Tomou tudo deles? Não, ele lhes permitiu usarem a terra e os demais recursos para que vivessem; mas para que se lembrassem sempre de que tudo aquilo que eles tinham não era deles, um quinto da colheita (ou 20% da renda) ia para Faraó:

“Há de ser, porém, que no tempo as colheitas dareis a quinta parte a Faraó, e quatro partes serão vossas, para semente do campo, e para o vosso mantimento e dos que estão nas vossas casas, e para o mantimento de vossos filhinhos.” - Gênesis 47:24

E o que os egípcios fizeram? Ficaram reclamando e dizendo que era injusto? Claro que não! A reação deles foi justamente o contrário:

“Responderam eles: Tu nos tens conservado a vida! achemos graça aos olhos de meu senhor, e seremos servos de Faraó.” - Gênesis 47:25

Viverem como servos de Faraó era para eles um privilégio, pois eles nem vivos estariam se não fosse a intervenção do rei! Eu vejo nisto um perfeito paralelo do que Deus fez conosco. Nossas vidas e tudo o que tínhamos passaram a pertencer ao Senhor, mas Ele não queria tomar tudo de nós. Ele queria que continuássemos vivendo. Queria que vivêssemos melhor do que o que viveríamos se não fossemos mordomos seus. Então nos disse:

– “Vão em frente. Usem o que é meu para que vocês possam viver suas vidas, e continuarem produzindo, mas não quero que se esqueçam de que são apenas mordomos daquilo que não pertence a vocês. Então de toda a sua renda eu vou querer um décimo (dízimo) para mim, mais aquilo que você vai me dar espontaneamente”.

E sabe o que muitos de nós dizemos? Que não é justo! Como isto pode ser algo injusto? Em vez de nos regozijarmos por pertencer a Ele e podermos servir ao que redimiu nossas vidas, reclamamos muitas vezes de ter que devolver um pouco do que é d’Ele! Tem gente que vê o dízimo como se Deus quisesse tirar dez por cento do que é nosso. Mas esta não é a perspectiva correta. Deus é quem nos deixa ficar com noventa por cento do que é d´Ele! A maioria de nós ainda não conseguiu compreender que a entrega do dízimo é uma forma de celebrar a redenção. Não só expressamos gratidão pelo que Ele nos fez e nos mantemos conscientes de nosso lugar na relação com Deus, como ainda realizamos um ato profético ao dizimarmos.

Um Ato Profético

O dízimo é um ato profético. Assim como quando os israelitas celebraram a primeira Páscoa, praticaram um ato profético, quando dizimamos fazemos algo semelhante. Deus advertiu que naquela noite o anjo da morte haveria de matar todos os primogênitos dos homens e dos animais no Egito (Êx.12:12). Em todas as pragas anteriores, os hebreus haviam sido poupados, mas nesta noite a proteção não seria automática, dependia de um ato profético, da encenação de um simbolismo espiritual. Cada um deles devia aplicar o sangue do cordeiro da Páscoa aos umbrais de suas portas:

“O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito”. - Êxodo 12:13

O sangue de um animal não tinha o poder de promover proteção espiritual, era só um sinal, uma mensagem simbólica. Era um ato profético por meio do qual reconheciam a redenção de Deus em suas vidas naquela noite, e apontavam para o futuro quando Cristo viria nos resgatar e proteger por meio de seu sangue vertido na cruz. O interessante é que os hebreus não precisavam se proteger. Só deviam praticar o SINAL estabelecido por Deus. Então Deus mesmo cuidaria da proteção. Mas se não o obedecessem estabelecendo o sinal de proteção, as mortes dos primogênitos seriam inevitáveis:

“Tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que estiver na bacia e marcai a verga da porta e suas ombreiras com o sangue que estiver na bacia; nenhum de vós saia da porta da sua casa até pela manhã. Porque o Senhor passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará o Senhor aquela porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir”. - Êxodo 12:13

Há algo que precisa ser entendido aqui. Deus diz: Eu passarei pelas portas... Eu ferirei os primogênitos... Em primeira instância, parece-nos que é Ele pessoalmente fazendo tudo, mas não é isto que vemos aqui. Trata-se de Deus determinar a execução do juízo, mas não de exercê-lo sozinho e diretamente. O versículo 23 termina dizendo que Deus não permitiria ao Destruidor entrar. Logo, quem executava as mortes não era Ele pessoalmente, mas um anjo. Vários textos do Velho Testamento enfatizam Deus exercendo este juízo (Nm.33:4 e Sl.135:8), mas a forma como Ele executou isto é o que estamos discutindo aqui.

E que anjo era este? Ele foi chamado de Destruidor. Curiosamente, o mesmo nome é dado ao anjo do abismo, cujo nome hebraico era Abadom e o nome grego Apoliom (ambos significam destruidor); e a Bíblia (Ap.9:11) diz que este era rei sobre outros anjos que saíram do abismo! No juízo que Deus determinou sobre Jerusalém, o anjo destruidor também foi enviado (I Cr.21:15).

Satanás executa atos de juízo divino quando é liberado para ferir e destruir os que desobedecem. E não tenho medo de dizer que quem de fato exercia o juízo de Deus naquela noite era o Diabo, o anjo da morte. As Escrituras dizem que um espírito maligno da parte do Senhor atormentava a Saul (I Sm.16:14-16). Isto não quer dizer que o espírito maligno era do céu, mas que foi enviado por Deus a exercer juízo a quem se recusava a viver o Seu melhor!

O sangue naquela noite de Páscoa era um sinal de propriedade. E o Diabo não pode penetrar além do sangue. Lemos em Apocalipse 12:11 de um grupo de fiéis que venceu a Satanás, e o texto revela que eles o venceram pelo sangue do Cordeiro! Satanás não pode tocar naquilo que é de Deus. Tenho conhecido várias pessoas que foram alcançadas por Jesus vindo da magia negra, bruxaria e satanismo. E pessoalmente ouvi de várias delas que antes de sua conversão tiveram experiências que as fizeram pensar. Tentaram matar um crente com seus trabalhos e não puderam, ou tentaram violar túmulos de cristãos e as entidades materializadas no momento do trabalho diziam que "não podiam tocar naqueles corpos porque eram do Homem lá de cima"! Aleluia! Se até nossos restos mortais que sofreram decomposição estão sob proteção, o que não dizer de nós hoje, nossas famílias e bens?

Quando um hebreu punha o sinal do sangue na porta, estava dizendo com aquilo que era propriedade de Deus e não podia ser tocado. E sempre que a redenção está em questão, Deus decide pessoalmente defender o que é seu. Foi assim na Páscoa e é assim com o dízimo. Quando dizimamos ELE MESMO repreende o devorador! No momento em que um crente dizima, ele está reconhecendo perante Deus e todo o reino espiritual que reconhece a redenção e sua consequência de ter a Deus como seu dono, bem como de tudo o que lhe pertence. Diante deste reconhecimento, o Senhor mesmo afasta o devorador e protege o que é seu. E o Diabo não se atreve a tentar tocar no que pertence a Deus.

Mas quando alguém desobedece o ato ordenado do dízimo, está declarando que Deus não é o dono daquela quantia. E não só está roubando o dízimo (apropriação indébita do que é de Deus) como também está se apropriando dos noventa por cento que ficam. E ao fazer isto, o Diabo está de longe, assistindo tudo. Então Satanás diz:

– “Ah, este dinheiro não é de Deus? O que é de Deus eu não posso tocar, mas o que é seu”...

E é aí que as perdas ocorrem! Devemos fazer do dízimo um ato de celebração da redenção. O número dez está ligado a simbologia da redenção. Mesmo quando fala de prova (10 mandamentos) ou juízo (10 pragas) é porque tem a redenção por trás da história. O cordeiro da Páscoa deveria ser escolhido no dia 10 do mês de Abib (Êx.12:3). Ao entregá-lo devemos ser gratos pela redenção e compreender que através de sua entrega redimimos os noventa por cento restantes da renda para administrá-los ao Senhor.

Perdas e Ganhos

Muitos não entendem a bênção e a maldição da qual Malaquias fala em sua profecia. Acham que Deus ameaça seus filhos para que o obedeçam por medo, mas não se trata disto. Vimos que o Diabo não pode tocar naquilo que é de Deus, mas pode tocar no nosso dinheiro quando deixamos de reconhecer Deus como dono de tudo o que temos. Devido ao nosso pecado de roubar o que não é nosso, o maligno encontra uma brecha para nos tocar. Esta é a razão da maldição ferir os que negligenciam a entrega do dízimo. As perdas se manifestam em decorrência de uma maldição que por sua vez entra em suas vidas pela desobediência.

Por outro lado, a bênção que vem decorrente da fidelidade no dízimo também precisa ser entendida. Não se trata apenas de uma recompensa por bom comportamento, e sim dos princípios sendo devidamente aplicados pelo cristão.

Há ganhos para os que dizimam? Claro que sim! Mas eles não devem ser vistos como Deus aumentando nosso patrimônio, e sim como uma forma de Deus aumentar o patrimônio d´Ele sob nossa mordomia. Jesus nos ensinou um princípio que rege vários aspectos da vida cristã:

“Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito”. - Lucas 16:10

Se não dizimamos no pouco que Deus nos confiou, antes o roubamos, praticando infidelidade em nossa mordomia, Ele não nos confiará mais, pois continuaríamos sendo injustos no muito. Esta infidelidade impede a bênção financeira sobre quem retém o dízimo! Por outro lado, quem é fiel no pouco também será no muito. Se demonstrarmos obediência em dizimar no que já temos, Deus nos confiará mais de seus bens. Esta é a prova que determina quem receberá mais do Senhor e quem não.

Mantendo-nos Conscientes

O Senhor Jesus instituiu uma ceia memorial para que recordássemos sempre aquilo que Ele fez por nós na cruz (I Co.11:24,25). O Senhor nos conhece, bem como nossa inclinação ao esquecimento do que Ele tem feito por nós. Portanto, estabeleceu uma forma de manter-nos conscientes do que fez. O dízimo também atende ao mesmo propósito. Sua relação com a redenção deve nos manter conscientes de que Deus é nosso dono e que somos sua propriedade.

E assim como a ceia faz parte de um culto de gratidão e ainda anuncia uma mensagem (a morte do Senhor até que ele venha - I Co.11:26), assim também a entrega do dízimo celebra a redenção e testemunha a consciência de que pertencemos ao Senhor. É interessante observar que a primeira menção do dízimo na Bíblia aparece justamente num contexto de redenção (Abraão resgatando seu sobrinho Ló) e junto com a tipologia da ceia: Melquisedeque (que recebe os dízimos) vem ao encontro de Abraão trazendo pão e vinho. Quando temos o culto de ceia na Igreja que pastoreio, deixamos para entregar nossos dízimos no momento em que vamos cear.

Assim como celebramos a ceia lembrando aquilo que o Senhor fez por nós na cruz, também fazemos da entrega do dízimo um ato de celebração da redenção. Quando entregar seus dízimos em sua igreja local, faça-o com esta consciência. Uma atitude correta na entrega do que você oferece ao Senhor é um passo vital para desfrutar das suas bênçãos.