sábado, 14 de junho de 2008

TU ME AMAS? AMOR AO SENHOR

//// Luciano Subirá ////

No ano de 1994 Deus falou comigo de uma forma diferente. Eu era ainda novo no ministério, com apenas alguns poucos de experiência como pregador. Ainda era solteiro e na ocasião morava na cidade de Guarapuava, no Estado do Paraná, onde por nove anos auxiliei no estabelecimento e pastoreamento da Comunidade Vida. Era uma quinta-feira, e tudo começou durante um delicioso almoço que eu havia desfrutado na casa de dois irmãos queridos: Barbosa e Dirlei. A irmã Dirlei disse que sua filha Tássia havia tido um sonho muito impactante naquela noite, e queria que ela pudesse compartilhar comigo; na ocasião ela tinha apenas sete anos. Ressaltou que ela quase não havia conseguido compartilhar com eles, pois se emocionava ao lembrar a experiência e tentar contá-la.

Lutando contra o choro, aquela menina contou que havia sonhado com um de nossos cultos, e vira quando eu subira à plataforma para pregar. Naquele momento ela viu o telhado de zinco do barracão onde nos reuníamos ser enrolado e se abrir, bem como os céus acima de nós. Então ela viu o Senhor Jesus descer dos céus até o púlpito da igreja. E de forma gentil Ele me abraçou e disse que eu poderia me sentar porque Ele é quem pregaria para a igreja naquela noite.

Tento imaginar o que foi esta experiência para aquela irmãzinha na ocasião. Eu que não sonhei nada, apenas a ouvi, fui envolvido por uma indescritível sensação da presença de Deus.

Teríamos um culto naquela noite e eu sabia que a mensagem não era literal, mas sabia que Deus estava tentando falar comigo. Quase não suportei esperar a hora de chegar em casa para orar e buscar ao Senhor, e quando o fiz, fui muito visitado pelo Senhor. Sabia que Deus queria fazer algo diferente naquele dia. Foi então que, entre lágrimas e soluços supliquei ao Senhor que me ajudasse a entender o que estava acontecendo e o que ele queria me falar com aquilo. E ouvi o Espírito Santo dizendo claramente que eu deveria deixar de lado a mensagem que havia preparado, pois Ele queria falar com a igreja algo muito específico. Me fez entender que a mensagem do sonho não era a de que eu deveria me sentar literalmente, mas deixar de lado o que eu queria falar para que Ele pudesse falar com sua igreja.

Decidi de imediato abandonar o esboço que se encontrava pronto e questionei o que Deus queria comunicar naquela noite. Então ouvi o Espírito Santo falando pela segunda vez de uma forma muito clara: "Estou tentando falar com a minha Igreja desde o culto de domingo e vocês não me permitiram".

Nesta hora, as escamas caíram de meus olhos e pude ver e entender tudo tão claramente. Era quinta-feira. Tivemos o culto de domingo à noite e uma reunião na terça-feira à tarde, e esta seria nossa terceira reunião naquela semana. No fim da reunião de terça-feira à tarde, a irmã Maria, que estava conosco desde o início da igreja havia me contado uma experiência incomum.

Relatou-me que no culto de domingo tivera uma visão fantástica. Apesar de estar com seus olhos abertos e todos os sentidos funcionando normalmente, viu o teto de zinco do barracão onde a igreja encontrava-se instalada naquele tempo ser enrolado para os lados e então viu o céu também se abrir e viu uma pessoa gloriosa. Seu rosto brilhava como o sol e ela não podia ver sua forma, pois era difícil contemplar aquele brilho. Viu também que ele estava envolvido em chamas até a altura de sua cintura e rodeado de anjos. Um de seus braços se encontrava estendido para o lado e pela cicatriz em sua mão ela soube para quem estava olhando. Com a outra mão estendida em direção da igreja, e com o dedo em riste ele perguntava em alta voz: "Tu me amas?"

Repetiu este ato por três vezes seguidas e sua voz parecia um trovão. A irmã Maria disse que achou que todos viam e ouviam o que ela estava presenciando, mas como percebeu que todos reagiam normalmente como em qualquer outra reunião, entendeu se tratar de uma visão. Ela ficou tão impactada que sequer teve coragem de falar a respeito da experiência. Suas forças sumiram e praticamente ficou de cama até nosso culto da terça-feira à tarde, ao fim do qual me contou a visão. Perguntei-lhe se entendia que aquela mensagem era só para ela ou se era para toda a igreja. Ela estava convicta de que era para toda a igreja. Chamei-lhe a atenção por não ter falado nada antes, pois duas reuniões haviam se passado sem que pudéssemos compartilhar com a igreja.

Mas apesar de ter lhe chamado a atenção, não pedi que ela falasse nada na próxima reunião e nem sequer orei sobre isto. Não entendo como pude ser tão insensível, mas fui. Amo o mover profético na igreja e creio no fluir dos dons do Espírito Santo para a edificação do corpo, mas confesso que não sei porque não pensei mais naquilo. Não é todo dia que pessoas recebem de Deus uma visão aberta e sonham desta forma. Mas mesmo diante de tudo isto, demorei tanto para entender o que o Senhor queria falar. Isto tem me ensinado que nem sempre estamos tão receptivos ao Espírito Santo como achamos estar. Então chegou a quinta-feira, dois dias depois de ter ouvido sobre aquela visão aberta. E agora havia uma nova visão me chamando a atenção para o fato de que o Senhor queria falar com a sua igreja.

Hoje, ao olhar para trás e me lembrar destas experiências, sinto-me como os discípulos no caminho de Emáus. E me pergunto: como não vi e entendi antes o que o Senhor estava tentando nos dizer? Mas sob uma forte visitação do Espírito Santo percebi naquela quinta-feira à tarde que aquele era um momento profético de correção e ensino para mim a para toda a igreja. E questionei: "Pai querido, o que o Senhor quer falar com sua igreja?"

E novamente fui surpreendido pela clareza da voz do Espírito Santo. Deixe-me dizer que não experimento isto sempre; esta foi uma forma incomum de ouvir ao Senhor e receber um esboço de mensagem. Mas foi assim que aconteceu. Ele me perguntou qual texto da Escritura Sagrada me vinha à mente ao recordar a visão que a irmã Maria tivera. Abri em João 21 onde Jesus fala assim com Pedro e li o texto várias vezes, mas não conseguia entender o que havia ali. Então o Espírito Santo me mandou alistar três tópicos na folha de papel que trazia à mão, e falou comigo como nunca falara antes.

Cheguei a ter algumas experiências parecidas nestes últimos nove anos, mas foram poucas. E isto me fez entender a importância do assunto e a natureza da comissão que ele me dava: repartir isto com a sua igreja. Nestes anos que se seguiram preguei sobre o assunto poucas vezes e só agora sinto que chegou o tempo de escrever e compartilhar isto com a Igreja do Senhor de forma mais abrangente.

Estou certo de que Deus falará ao seu coração. Esta não é só uma palavra de ensino, é um chamado profético de Deus à sua Igreja. Portanto, “quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2.29). Naquele dia o Senhor falou muito comigo sobre o nosso amor para com Ele. E tudo começou a partir deste texto bíblico:

“Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas”. (João 21.15-17)

Nesta ocasião Ele me deu três princípios extraídos desta conversa que teve com Pedro, transcrita nos versículos acima:

Necessidade de auto-avaliação
O amor pode crescer
O amor se expressa em ações
Nas próximas páginas quero falar um pouco sobre cada um deles.

A NECESSIDADE DE AUTO-AVALIAÇÃO

O primeiro princípio que o Senhor me mostrou naquele dia foi que todos temos a necessidade de passar por uma sincera auto-avaliação de nosso amor. Por que o Senhor pergunta por três vezes sobre o mesmo assunto?

Na verdade, Jesus não precisava perguntar acerca de coisa nenhuma, visto que após sua ressurreição e conseqüente glorificação, o atributo da onisciência do qual Cristo se despira temporariamente voltara a operar em plenitude na sua vida. Então, se sabia todas as coisas e ainda assim questionou a Pedro, concluímos que o fez não por necessidade da resposta, mas para conduzir o apóstolo a uma sincera auto-avaliação.

Creio que o que o Senhor queria era justamente isto; levar Pedro a olhar dentro de si mesmo e reconhecer onde ele estava em relação ao seu amor a Cristo. Muitas vezes podemos até nos enganar em nosso julgamento, sobre o quanto amamos ao Senhor. O profeta Jeremias declarou, pelo Espírito Santo:

“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17.9)

Vemos isto de forma específica na vida do apóstolo Pedro; ele achava que seu amor por Jesus era muito maior do que aquilo que veio a demonstrar depois. Pelas promessas que fez (e não cumpriu) percebemos que ele estava enganado acerca do amor que achava ter pelo Senhor:

“Então, lhes disse Jesus: Todos vós vos escanda-lizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas. Mas, depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galiléia. Disse-lhe Pedro: Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais! Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. Mas ele insistia com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. Assim disseram todos.” (Marcos 14.27-31)

“Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!” Você percebe esta mentalidade em Pedro? Ele se achava tremendamente fiel ao Senhor, mas estava prestes a descobrir que não era tudo o que pensava ser. E embora nosso enfoque esteja em Pedro, que se achou melhor que os outros, note que cada um deles disse que se preciso fosse morreria com Jesus. Eles realmente acreditavam em sua espiritualidade e fidelidade!

Mas na hora em que Cristo foi preso, todos fugiram (Mc 14.50). Nenhum deles ficou por perto. Mesmo não abandonando completamente a Jesus, Pedro permaneceu à distância, de onde pudesse satisfazer sua curiosidade do que viria a ocorrer, mas ao mesmo tempo salvar sua pele.

“Pedro seguira-o de longe até ao interior do pátio do sumo sacerdote e estava assentado entre os serventuários, aquentando-se ao fogo.” (Marcos 14.54)

E foi este distanciamento que o levou ao passo seguinte, já antes profetizado pelo Mestre: negar a Jesus.

“Estando Pedro embaixo no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote e, vendo a Pedro, que se aquentava, fixou-o e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno. Mas ele o negou, dizendo: Não o conheço, nem compreendo o que dizes. E saiu para o alpendre. [E o galo cantou.] E a criada, vendo-o, tornou a dizer aos circunstantes: Este é um deles. Mas ele outra vez o negou. E, pouco depois, os que ali estavam disseram a Pedro: Verdadeiramente, és um deles, porque também tu és galileu. Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais! E logo cantou o galo pela segunda vez. Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. E, caindo em si, desatou a chorar.” (Marcos 14.67-72)

Mateus declara em seu evangelho que Pedro chorou amargamente. Marcos enfatiza que ele irrompeu em prantos assim que “caiu em si”. O fato dele ter caído em si quando o galo cantou, mostra que até então estava um pouco fora de si. Nosso coração muitas vezes nos engana, levando-nos a achar que amamos mais do que realmente amamos. Pedro havia fantasiado seu amor e fidelidade ao Senhor; construíra também um sentimento de grandeza em si, e de repente tudo foi para o chão. Ele descobriu que não era tão forte assim; descobriu também que há uma grande distância entre o que achamos ser e o que de fato somos. É por isso que o Novo Testamento enfatiza muito o cuidado para que não nos enganemos a nós mesmos. Na carta aos romanos, Paulo declarou: “...digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém, antes, pense com moderação...” (Rm 12.3).

Uma avaliação superficial talvez não nos leve a compreender quão falho ainda é o nosso amor. E não enxergando nossa fragilidade, estamos impedidos de crescer e buscar a maturidade. Examine seu coração. Peça ao Espírito Santo que lhe mostre onde você realmente se encontra no que tange ao amor ao Senhor.

O AMOR PODE CRESCER

O segundo princípio que o Senhor me mostrou naquele dia foi que nosso amor pode crescer. Descobrir nosso aspecto falho nesta matéria não deve nos levar a um lugar de culpa ou condenação, e sim de estímulo ao crescimento. Quando reconhecemos a distância a que estamos do alvo, devemos nos sentir ainda mais impulsionados a alcançá-lo.

Lembre-se que antes Simão Pedro achava que amava ao Senhor Jesus à ponto de dar sua própria vida por Ele, e de repente veio a descobrir que não era tudo o que pensava ser e nem tampouco amava tanto quanto achava. E depois de sua decepção, Pedro passa a achar que não amava tanto o Senhor; é dentro deste dilema vivido pelo apóstolo, que Cristo o leva a examinar-se a si mesmo e localizar-se espiritualmente onde ele verdadeiramente estava quanto ao seu amor.

Vemos isto na maneira como as perguntas lhe foram feitas pelo Senhor e pela promessa que ele lhe fez depois delas. Há um jogo de palavras no original grego que não percebemos na tradução do Português; trata-se da palavra “amor”. O grego usa palavras diferentes para conotar expressões diferentes do amor; se a referência ao amor é física, sexual, então a palavra grega empregada é “eros”; se a conotação do amor for fraternal, então é “fileo”; e quando trata-se um amor perfeito, intenso, do tipo de Deus, a palavra usada é “ágape”. No português não temos este tipo de distinção; contudo, Jesus usou diferentes tipos de palavras na conversa com Pedro.

Na primeira pergunta, Ele diz: "Tu me amas (ágape)?"

E Pedro lhe responde: "Tu sabes que te amo (fileo)."

Na segunda vez se dá o mesmo, Jesus pergunta se Pedro o ama no nível mais alto de amor – ágape – e Pedro reconhece que ama, mas nem tanto: seu amor era só fileo. Como não consegue levar Pedro ao seu nível, Jesus desce ao dele e na terceira vez lhe pergunta: "Tu me amas (fileo)?"

E então Pedro diz: "Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo (fileo)."

É como se por mais uma vez ele afirmasse: "O meu amor não vai além disto e eu não quero me enganar de novo."

Portanto para as perguntas de Jesus a Pedro: “Você me ama?”, as respostas foram: “Senhor, você sabe que eu gosto de você”. Mas a beleza desta conversa está no fato de que, ainda que Jesus não tenha ouvido da boca de Pedro que ele o amasse a ponto de morrer, o Mestre afirma que Pedro ainda viria a glorificar a Deus através de sua morte:

“Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias: mas, quando já fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde tu não queiras. E disse isso significando com que morte havia ele de glorificar a Deus. E, dito isso, disse-lhe: Segue-me”. (João 21.18,19)

Ao dizer a Pedro que ele morreria, Jesus estava declarando que chegaria o dia em que ele amaria tanto ao Senhor como achou que amava no começo. E nesta promessa de que Pedro daria sua vida por Ele, Jesus declarou até mesmo que tipo de morte seria; o apóstolo estenderia suas mãos, um tipo de morte comum nos dias do Império romano: a crucificação. E a tradição diz que quando o imperador Nero mandou crucificá-lo (entre 64 a 67 d.c.), Pedro teria dito: "Não sou digno de morrer como o meu Senhor." E então teria pedido que o crucificassem de cabeça para baixo, o quê, se de fato ocorreu, foi uma demonstração ainda maior de amor a Jesus Cristo.

Durante muito tempo achei que Jesus fez as três perguntas a Simão Pedro como uma forma de dar a ele a chance de consertar suas três negações. Mas ao examinar este jogo de palavras, vemos que o Senhor, além de levar o apóstolo à conclusão de que ainda não amava o quanto devia, inspira-o também a crer que chegaria o momento em que atingiria esta maturidade.

É importante destacar isto: o Senhor acredita em nós mais do que nós mesmos! Ele vê nosso potencial de sucesso quando só enxergamos nossas falhas. Ele vê nosso futuro quando só nos prendemos ao nosso passado. Ele consegue dizer a cada um de nós quando falhamos em expressar nosso amor a Ele: "Eu acredito que você ainda vai chegar lá".

Assim como Pedro teve sua chama de esperança acesa, também o devemos ter. Mesmo que nosso coração ainda não esteja no nível de amor que deveria, podemos nos mover decididos ao crescimento deste amor!

O AMOR SE EXPRESSA EM AÇÕES

O terceiro princípio que o Senhor me mostrou naquele dia foi que o verdadeiro amor não se limita apenas a palavras, mas se expressa em ações. O apóstolo João ecreveu acerca disto:

“Mas aquele que tiver bens do mundo e vir seu irmão em necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como permanece nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra nem de língua, mas por obras e em verdade”. (1 João 3.17,18)

Em outras palavras, João estava dizendo que só falar de amor ao irmão é fácil, mas temos que demonstrar por nossas obras a veracidade do que falamos. Nossas ações devem fazer coro com nossas afirmações. E isto não apenas no que tange ao amor ao próximo, mas principalmente no que diz respeito ao nosso amor pelo Senhor. Só declararmos e cantarmos acerca deste amor não é suficiente. O Senhor Jesus protestou a respeito:

“Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram”... (Marcos 7.6,7)

Não adianta ter uma declaração de amor nos lábios e o coração e atitude não estarem em harmonia. O amor deve se expressar por meio de ações.

Na conversa de Jesus com Pedro acerca do amor ao senhor vemos algo interessante. Depois de cada pergunta do Mestre, com conseqüentes respostas de afirmação de amor de Pedro, o Senhor lhe pediu que apascentasse suas ovelhas. Por quê? Porque quem ama, trabalha! Seria o equivalente a declarar: "Se você me ama, ame o que eu também amo e faça algo para mim".

Quem ama age como tal. Expressa isto em ações de louvor e gratidão, de serviço e muito mais. Precisamos entender este princípio e aprender a expressar nosso amor ao Senhor não só por meio de palavras ou de canções de adoração, mas por meio de trabalho.

O exercício do ministério é uma manifestação de amor ao Senhor Jesus Cristo. Em função disto, não entendo como tantos crentes conseguem apenas “esquentar os bancos” (ou cadeiras) de uma igreja. Somos parte de uma geração que não quer servir, somente ser servida! Sei que o serviço não é mais importante que estar com o Senhor e desfrutar de sua presença; Marta que o diga (Lc 10.41,42)! Entretanto, deveríamos dizer que embora não substitui o estar com o Senhor, é um bom complemento ou atividade subseqüente para expressar nosso amor.

Você está engajado na obra do Senhor? Não falo sobre o ministério em tempo integral, mas acerca do cristianismo em tempo integral! Você procura ganhar almas para Cristo? Ajuda a cuidar delas de alguma forma? Participa de algum ministério em sua igreja? Procura servir, ainda que seja naquelas coisas aparentemente mais simples?

A Igreja jamais cumprirá a grande comissão se o Corpo não for mobilizado ao trabalho. A idéia antiga de um pequeno clero trabalhando em prol dos leigos precisa ser definitivamente banida! Jesus morreu para nos salvar e nos transformar em ministros (sacerdotes):

“E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de receber o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e compraste para Deus com o teu sangue homens de toda a tribo, e língua, e povo e nação, e lhes fizeste para nosso Deus reino e sacerdotes, e reinarão sobre a terra”. (Apocalipse 5.9,10)

Examine sua própria vida e procure sua expressão de amor na forma de serviço, de ministério. Se isto não está acontecendo, algo tem que mudar. Ou seu amor por Jesus ainda é pouco expressivo e precisa ser fortalecido, ou você, apesar de todo seu amor por Cristo, não tem sabido expressá-lo direito e precisa começar a servir.

O DÍZIMO E A REDENÇÃO

O Dízimo e a Redenção
////por Luciano Subirá ////

É impossível discutir a fundo as questões de vida financeira e de contribuição ao Senhor sem entender o que é a redenção. No livro do profeta Malaquias, no clássico texto a respeito do dízimo, encontramos este nível de abordagem. Quando fala da retenção dos dízimos e ofertas, Deus chama isto de roubo:

“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda”. - Malaquias 3:8,9

Uma abordagem do ponto de vista jurídico diria que o assunto abordado por Deus é uma questão de propriedade. Legalmente falando, envolve posse. E não há como falar de coisas que dizem respeito à propriedade de Deus, sem estudar antes a lei da redenção.

Entendendo a Redenção

Para muitos cristãos, a palavra “redenção” não significa nada mais do que “perdão dos pecados” ou “salvação”. Mas seu significado vai muito além disto. A palavra “redenção” significa “resgate” ou “remissão”. Fala de readquirir uma propriedade perdida. Antes de Deus estabelecer algumas verdades no Novo Testamento, deixou que elas fossem ilustradas no Velho Testamento:

“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem”. - Hebreus 10:1(TB)

A sombra é diferente da imagem real que a projeta. Assim também, o que se via nas ordenanças da Velha Aliança eram características similares (em ordenanças literais) às dos princípios que Deus revelaria nos dias da Nova Aliança (práticas espirituais). A circuncisão deixou de ser literal e passou a ser uma experiência no coração (Rm.2:28,29). A serpente que Moisés levantou no deserto se tornou uma figura da obra de Cristo na cruz (Jo.3:14). Assim também, outros detalhes da Lei que envolvia comida, bebida e dias de festa, começaram a ser vistos não como ordenanças literais pelas quais quem não as praticassem pudessem ser julgados, mas como uma revelação de princípios espirituais, cabíveis na Nova Aliança:

“Ninguém, portanto, vos julgue pelo comer, nem pelo beber, nem a respeito de um dia de festa, ou de lua nova ou de sábado, as quais coisas são sombras das vindouras, mas o corpo é de Cristo”. - Colossenses 2:16,17

É desta forma que precisamos olhar para a lei da redenção no Velho Testamento. Durante anos Deus fez o povo praticar uma encenação do que Ele mesmo um dia faria conosco. Foi assim com o sacrifício do cordeiro que os israelitas repetiam anualmente em várias cerimônias; por fim, vemos João Batista apontando para Jesus e dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo.1:29). Paulo se referiu a Jesus como o cordeiro pascal (I Co.5:7). Vemos nestas passagens que as práticas repetidas por centenas e centenas de anos visavam leva-los a entender uma figura que só seria revelada posteriormente. Com a redenção não foi diferente.

O livro de Rute nos mostra Boaz resgatando (ou redimindo) as propriedades de Noemi. Ele estava readquirindo uma posse perdida. Toda dívida tinha que ser paga. Se uma pessoa não tinha recursos para honrar seus compromissos, deveria dar seus bens em pagamento. Se estes não fossem suficientes, deveria entregar também suas terras. E se estas ainda não bastassem para a quitação da dívida, a própria pessoa (e às vezes até a família) deveria ser dada como pagamento. Isto faria dela um escravo. Lemos em II Reis 4 que uma mulher viúva, que fora casada com um dos filhos dos profetas, teria seus filhos sendo levados como escravos se não pagasse a dívida. E quando isto acontecia com alguém, só havia duas formas desta pessoa sair da condição de escravidão: ou alguém pagava sua dívida (um redentor) ou ela esperava nesta condição até que o Ano do Jubileu chegasse (que se repetia a cada cinqüenta anos). Veja o que a lei mosaica dizia acerca disto:

"Se teu irmão empobrecer e vender alguma parte das suas possessões, então, virá o seu resgatador, seu parente, e resgatará o que seu irmão vendeu. Se alguém não tiver resgatador, porém vier a tornar-se próspero e achar o bastante com que a remir, então, contará os anos desde a sua venda, e o que ficar restituirá ao homem a quem vendeu, e tornará à sua possessão. Mas, se as suas posses não lhe permitirem reavê-la, então, a que for vendida ficará na mão do comprador até ao Ano do Jubileu; porém, no Ano do Jubileu, sairá do poder deste, e aquele tornará à sua possessão”. - Levítico 25:25-28

Neste texto, que fala só da perda da terra e não da escravidão, vemos que havia três formas de recuperá-la:
1) a redenção (o pagamento feito por um parente);
2) sua própria condição de pagar se viesse a prosperar (o que não ocorria no caso dos escravos);
3) ou a liberdade proclamada no Ano do Jubileu.

Para o escravo, porém, só havia duas formas de ser livre: O Jubileu ou a redenção. A redenção era o pagamento da dívida feito por um parente próximo. Por meio do pagamento ele comprava de volta aquilo que se perdera. Então a pessoa que fora escravizada deixava de pertencer a quem antes ela devia. Por exemplo, se eu me endividasse a ponto de perder todas as minhas posses e ainda ser levado escravo, e meu irmão me resgatasse, eu não deixaria de ser escravo, eu só mudaria de amo. Passaria agora a ser escravo de meu irmão, porque ele me comprara... E qual o proveito disto? De que adiantava ser livre de um para se tornar escravo de outro? A diferença era que o novo dono era um parente que pagara aquela dívida por amor (um escravo normalmente não valia tanto), e justamente por causa de seu amor trataria o escravo com brandura, com misericórdia.

O Que Cristo Fez Por Nós

Foi exatamente isto que Jesus fez por nós. Cristo nos comprou para Deus através de sua morte na cruz:

“...porque foste morto e com teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra”. - Apocalipse 5:9b,10

O homem foi feito escravo de Satanás quando se rendeu ao pecado no Jardim do Éden. A Bíblia declara que quem é vencido em algo se torna escravo daquele que o vence (II Pe.2:19), e foi isto que ocorreu ao primeiro casal. Foram separados da glória de Deus. Perderam a filiação divina; Adão foi chamado filho de Deus (Lc.3:38), mas esta condição não foi mantida. Quando Jesus veio ao mundo foi chamado de filho único de Deus (Jo.3:16); mas ele veio mudar esta condição e passou a ser o primogênito de muitos irmãos (Rm.8:29). O Diabo se assenhoreou do homem a da Terra, que fora dada ao homem (Sl.115:16), e afirmou isto para Jesus na tentação do deserto (Lc.4:6). Mas Jesus veio pagar a nossa dívida do pecado, e ao fazê-lo, garantiu nossa libertação das mãos de Satanás:

“Ele nos resgatou do poder das trevas e nos trasladou para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a nossa redenção, a remissão dos nossos pecados”. - Colossenses 1:13,14 (TB)

Observe o termo “resgatou”, que aparece quando o apóstolo está falando de ser tirado do reino das trevas e ser levado para o reino do Filho de Deus. Depois, afirma: no qual temos a nossa “redenção”! A redenção foi o ato de compra pelo pagamento da dívida do pecado:

“tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz; e tendo despojado os principados e potestades, os exibiu abertamente, triunfando deles na mesma cruz”. - Colossenses 2:14,15 (TB)

O texto sagrado revela que Jesus despojou os príncipes malignos. Segundo o Dicionário Aurélio, despojar significa: “Privar da posse; espoliar, desapossar”. Isto nos faz questionar o quê, exatamente, Jesus tirou destes principados malignos. O que eles possuíam que pudesse interessá-lo? Nada, a não ser o senhorio sobre nossas vidas! O despojo somos nós, que fomos comprados por Ele para Deus e a partir de então passamos a ser propriedade de Deus. É exatamente assim que as Escrituras se referem a nós. Somos chamados de propriedade de Deus:

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. - I Pedro 2:9

Repetidas vezes encontraremos a ênfase de que Cristo nos comprou para si. E o preço foi o seu próprio sangue.

“sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”. - I Pedro 1:18,19

Portanto, quando Jesus nos comprou, livrou-nos da escravidão do Diabo, mas nos fez escravos de Deus! Coisa alguma que possuímos é, de fato, nossa exclusivamente. Nem nossa própria vida pertence a nós mesmos! Somos propriedade de Deus. Ele é o nosso dono. Conseqüentemente, tudo o que nos pertence, também é dele! Referindo-se ao Espírito Santo em nós, Paulo o chamou de “o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus” (Ef.1:14 - ARC). Observe que o termo herança aparece associado aos termo “redenção” e “possessão” pois é disto que o princípio de redenção sempre trata: o resgate da propriedade.

Celebrando a Redenção

A consciência da redenção deve provocar em nós uma atitude de gratidão e de culto Deus. Paulo falou sobre vivermos uma vida de santidade que é fruto desta consciência de redenção:

“Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”. - I Coríntios 6:18-20 (ARC)

O apóstolo deixa claro, em três distintas frases, a ênfase de que somos propriedade de Deus. Primeiro ele afirma que não somos de nós mesmos. Depois declara que fomos comprados - e por um bom preço. E finalmente diz que nosso corpo e espírito pertencem (verbo que indica possessão) a Deus. Portanto, separar-se do pecado e santificar-se para Deus é glorificá-lo por meio do corpo. Não é um culto de palavras, mas não deixa de ser uma exaltação.

Celebramos a redenção não só por meio de cânticos, mas de atitudes. Quando reconhecemos que Deus comprou nosso corpo e cuidamos dele com a consciência de que é de Deus, este cuidado é um ato de glorificação ao Senhor. Da mesma forma, há culto expresso não só por meio de palavras, mas por nossas atitudes em relação a nossas finanças. Assim como Deus redimiu nosso corpo, redimiu também nossos bens. Logo, da mesma forma como usar bem o corpo (em santidade) glorifica a Deus, usar bem os recursos financeiros que são de Deus também o glorifica!

A Simbologia do Que José Fez

José comprou para Faraó todo o povo egípcio:

“Findo aquele ano, vieram a José no ano seguinte e disseram-lhe: Não ocultaremos ao meu senhor que o nosso dinheiro está todo gasto; as manadas de gado já pertencem a meu senhor; e nada resta diante de meu senhor, senão o nosso corpo e a nossa terra; por que morreremos diante dos teus olhos, tanto nós como a nossa terra? Compra-nos a nós e a nossa terra em troca de pão, e nós e a nossa terra seremos servos de Faraó; dá-nos também semente, para que vivamos e não morramos, e para que a terra não fique desolada. Então disse José ao povo: Hoje vos tenho comprado a vós e a vossa terra para Faraó; eis aí tendes semente para vós, para que semeeis a terra”. - Gênesis 47:18,19,23

O que aconteceu com este povo? Deixaram de pertencer a si mesmos e passaram a pertencer a Faraó. Seu gado, suas casas, suas terras, tudo pertencia ao rei do Egito. Eles se tornaram servos de Faraó cuidando do que era dele. O que Cristo fez conosco por meio de seu sacrifício na cruz foi algo semelhante. Isto é o que significa redenção. Originalmente éramos propriedade de Deus, mas a condição que a queda e o pecado trouxeram nos roubaram disto. E quando Cristo pagou o preço da nossa dívida, ele nos remiu da mão daquele que havia se tornado nosso dono, o Diabo.

Quando declaramos que somos servos de Deus, estamos reconhecendo que não somos de nós mesmos, e que tudo o que temos na verdade pertence ao Senhor. Somos apenas mordomos de algo que não é nosso. Não nos atolaríamos em dívidas, geradas em caprichos e excessos se andássemos com esta mentalidade. Se cada vez que fôssemos tomar decisões na área financeira, o fizéssemos com a consciência de que os recursos empregados pertencem ao Senhor, cometeríamos menos erros.

Quando José comprou aqueles egípcios para Faraó, tudo o que era deles passou a ser de Faraó; logo, toda renda deles deveria ir para Faraó. Mas o que fez o rei egípcio com o povo? Tomou tudo deles? Não, ele lhes permitiu usarem a terra e os demais recursos para que vivessem; mas para que se lembrassem sempre de que tudo aquilo que eles tinham não era deles, um quinto da colheita (ou 20% da renda) ia para Faraó:

“Há de ser, porém, que no tempo as colheitas dareis a quinta parte a Faraó, e quatro partes serão vossas, para semente do campo, e para o vosso mantimento e dos que estão nas vossas casas, e para o mantimento de vossos filhinhos.” - Gênesis 47:24

E o que os egípcios fizeram? Ficaram reclamando e dizendo que era injusto? Claro que não! A reação deles foi justamente o contrário:

“Responderam eles: Tu nos tens conservado a vida! achemos graça aos olhos de meu senhor, e seremos servos de Faraó.” - Gênesis 47:25

Viverem como servos de Faraó era para eles um privilégio, pois eles nem vivos estariam se não fosse a intervenção do rei! Eu vejo nisto um perfeito paralelo do que Deus fez conosco. Nossas vidas e tudo o que tínhamos passaram a pertencer ao Senhor, mas Ele não queria tomar tudo de nós. Ele queria que continuássemos vivendo. Queria que vivêssemos melhor do que o que viveríamos se não fossemos mordomos seus. Então nos disse:

– “Vão em frente. Usem o que é meu para que vocês possam viver suas vidas, e continuarem produzindo, mas não quero que se esqueçam de que são apenas mordomos daquilo que não pertence a vocês. Então de toda a sua renda eu vou querer um décimo (dízimo) para mim, mais aquilo que você vai me dar espontaneamente”.

E sabe o que muitos de nós dizemos? Que não é justo! Como isto pode ser algo injusto? Em vez de nos regozijarmos por pertencer a Ele e podermos servir ao que redimiu nossas vidas, reclamamos muitas vezes de ter que devolver um pouco do que é d’Ele! Tem gente que vê o dízimo como se Deus quisesse tirar dez por cento do que é nosso. Mas esta não é a perspectiva correta. Deus é quem nos deixa ficar com noventa por cento do que é d´Ele! A maioria de nós ainda não conseguiu compreender que a entrega do dízimo é uma forma de celebrar a redenção. Não só expressamos gratidão pelo que Ele nos fez e nos mantemos conscientes de nosso lugar na relação com Deus, como ainda realizamos um ato profético ao dizimarmos.

Um Ato Profético

O dízimo é um ato profético. Assim como quando os israelitas celebraram a primeira Páscoa, praticaram um ato profético, quando dizimamos fazemos algo semelhante. Deus advertiu que naquela noite o anjo da morte haveria de matar todos os primogênitos dos homens e dos animais no Egito (Êx.12:12). Em todas as pragas anteriores, os hebreus haviam sido poupados, mas nesta noite a proteção não seria automática, dependia de um ato profético, da encenação de um simbolismo espiritual. Cada um deles devia aplicar o sangue do cordeiro da Páscoa aos umbrais de suas portas:

“O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito”. - Êxodo 12:13

O sangue de um animal não tinha o poder de promover proteção espiritual, era só um sinal, uma mensagem simbólica. Era um ato profético por meio do qual reconheciam a redenção de Deus em suas vidas naquela noite, e apontavam para o futuro quando Cristo viria nos resgatar e proteger por meio de seu sangue vertido na cruz. O interessante é que os hebreus não precisavam se proteger. Só deviam praticar o SINAL estabelecido por Deus. Então Deus mesmo cuidaria da proteção. Mas se não o obedecessem estabelecendo o sinal de proteção, as mortes dos primogênitos seriam inevitáveis:

“Tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que estiver na bacia e marcai a verga da porta e suas ombreiras com o sangue que estiver na bacia; nenhum de vós saia da porta da sua casa até pela manhã. Porque o Senhor passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará o Senhor aquela porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir”. - Êxodo 12:13

Há algo que precisa ser entendido aqui. Deus diz: Eu passarei pelas portas... Eu ferirei os primogênitos... Em primeira instância, parece-nos que é Ele pessoalmente fazendo tudo, mas não é isto que vemos aqui. Trata-se de Deus determinar a execução do juízo, mas não de exercê-lo sozinho e diretamente. O versículo 23 termina dizendo que Deus não permitiria ao Destruidor entrar. Logo, quem executava as mortes não era Ele pessoalmente, mas um anjo. Vários textos do Velho Testamento enfatizam Deus exercendo este juízo (Nm.33:4 e Sl.135:8), mas a forma como Ele executou isto é o que estamos discutindo aqui.

E que anjo era este? Ele foi chamado de Destruidor. Curiosamente, o mesmo nome é dado ao anjo do abismo, cujo nome hebraico era Abadom e o nome grego Apoliom (ambos significam destruidor); e a Bíblia (Ap.9:11) diz que este era rei sobre outros anjos que saíram do abismo! No juízo que Deus determinou sobre Jerusalém, o anjo destruidor também foi enviado (I Cr.21:15).

Satanás executa atos de juízo divino quando é liberado para ferir e destruir os que desobedecem. E não tenho medo de dizer que quem de fato exercia o juízo de Deus naquela noite era o Diabo, o anjo da morte. As Escrituras dizem que um espírito maligno da parte do Senhor atormentava a Saul (I Sm.16:14-16). Isto não quer dizer que o espírito maligno era do céu, mas que foi enviado por Deus a exercer juízo a quem se recusava a viver o Seu melhor!

O sangue naquela noite de Páscoa era um sinal de propriedade. E o Diabo não pode penetrar além do sangue. Lemos em Apocalipse 12:11 de um grupo de fiéis que venceu a Satanás, e o texto revela que eles o venceram pelo sangue do Cordeiro! Satanás não pode tocar naquilo que é de Deus. Tenho conhecido várias pessoas que foram alcançadas por Jesus vindo da magia negra, bruxaria e satanismo. E pessoalmente ouvi de várias delas que antes de sua conversão tiveram experiências que as fizeram pensar. Tentaram matar um crente com seus trabalhos e não puderam, ou tentaram violar túmulos de cristãos e as entidades materializadas no momento do trabalho diziam que "não podiam tocar naqueles corpos porque eram do Homem lá de cima"! Aleluia! Se até nossos restos mortais que sofreram decomposição estão sob proteção, o que não dizer de nós hoje, nossas famílias e bens?

Quando um hebreu punha o sinal do sangue na porta, estava dizendo com aquilo que era propriedade de Deus e não podia ser tocado. E sempre que a redenção está em questão, Deus decide pessoalmente defender o que é seu. Foi assim na Páscoa e é assim com o dízimo. Quando dizimamos ELE MESMO repreende o devorador! No momento em que um crente dizima, ele está reconhecendo perante Deus e todo o reino espiritual que reconhece a redenção e sua consequência de ter a Deus como seu dono, bem como de tudo o que lhe pertence. Diante deste reconhecimento, o Senhor mesmo afasta o devorador e protege o que é seu. E o Diabo não se atreve a tentar tocar no que pertence a Deus.

Mas quando alguém desobedece o ato ordenado do dízimo, está declarando que Deus não é o dono daquela quantia. E não só está roubando o dízimo (apropriação indébita do que é de Deus) como também está se apropriando dos noventa por cento que ficam. E ao fazer isto, o Diabo está de longe, assistindo tudo. Então Satanás diz:

– “Ah, este dinheiro não é de Deus? O que é de Deus eu não posso tocar, mas o que é seu”...

E é aí que as perdas ocorrem! Devemos fazer do dízimo um ato de celebração da redenção. O número dez está ligado a simbologia da redenção. Mesmo quando fala de prova (10 mandamentos) ou juízo (10 pragas) é porque tem a redenção por trás da história. O cordeiro da Páscoa deveria ser escolhido no dia 10 do mês de Abib (Êx.12:3). Ao entregá-lo devemos ser gratos pela redenção e compreender que através de sua entrega redimimos os noventa por cento restantes da renda para administrá-los ao Senhor.

Perdas e Ganhos

Muitos não entendem a bênção e a maldição da qual Malaquias fala em sua profecia. Acham que Deus ameaça seus filhos para que o obedeçam por medo, mas não se trata disto. Vimos que o Diabo não pode tocar naquilo que é de Deus, mas pode tocar no nosso dinheiro quando deixamos de reconhecer Deus como dono de tudo o que temos. Devido ao nosso pecado de roubar o que não é nosso, o maligno encontra uma brecha para nos tocar. Esta é a razão da maldição ferir os que negligenciam a entrega do dízimo. As perdas se manifestam em decorrência de uma maldição que por sua vez entra em suas vidas pela desobediência.

Por outro lado, a bênção que vem decorrente da fidelidade no dízimo também precisa ser entendida. Não se trata apenas de uma recompensa por bom comportamento, e sim dos princípios sendo devidamente aplicados pelo cristão.

Há ganhos para os que dizimam? Claro que sim! Mas eles não devem ser vistos como Deus aumentando nosso patrimônio, e sim como uma forma de Deus aumentar o patrimônio d´Ele sob nossa mordomia. Jesus nos ensinou um princípio que rege vários aspectos da vida cristã:

“Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito”. - Lucas 16:10

Se não dizimamos no pouco que Deus nos confiou, antes o roubamos, praticando infidelidade em nossa mordomia, Ele não nos confiará mais, pois continuaríamos sendo injustos no muito. Esta infidelidade impede a bênção financeira sobre quem retém o dízimo! Por outro lado, quem é fiel no pouco também será no muito. Se demonstrarmos obediência em dizimar no que já temos, Deus nos confiará mais de seus bens. Esta é a prova que determina quem receberá mais do Senhor e quem não.

Mantendo-nos Conscientes

O Senhor Jesus instituiu uma ceia memorial para que recordássemos sempre aquilo que Ele fez por nós na cruz (I Co.11:24,25). O Senhor nos conhece, bem como nossa inclinação ao esquecimento do que Ele tem feito por nós. Portanto, estabeleceu uma forma de manter-nos conscientes do que fez. O dízimo também atende ao mesmo propósito. Sua relação com a redenção deve nos manter conscientes de que Deus é nosso dono e que somos sua propriedade.

E assim como a ceia faz parte de um culto de gratidão e ainda anuncia uma mensagem (a morte do Senhor até que ele venha - I Co.11:26), assim também a entrega do dízimo celebra a redenção e testemunha a consciência de que pertencemos ao Senhor. É interessante observar que a primeira menção do dízimo na Bíblia aparece justamente num contexto de redenção (Abraão resgatando seu sobrinho Ló) e junto com a tipologia da ceia: Melquisedeque (que recebe os dízimos) vem ao encontro de Abraão trazendo pão e vinho. Quando temos o culto de ceia na Igreja que pastoreio, deixamos para entregar nossos dízimos no momento em que vamos cear.

Assim como celebramos a ceia lembrando aquilo que o Senhor fez por nós na cruz, também fazemos da entrega do dízimo um ato de celebração da redenção. Quando entregar seus dízimos em sua igreja local, faça-o com esta consciência. Uma atitude correta na entrega do que você oferece ao Senhor é um passo vital para desfrutar das suas bênçãos.

domingo, 8 de junho de 2008

SOB TUA PALAVRA LANÇAREI A REDE

Texto: Lucas 5:1-11

Sempre a Palavra antecede a fé “De sorte que a fé é pelo ouvir e o ouvir da Palavra de Deus” Romanos 10:17 . A tarefa prioritária de Jesus vem pela pregação da Palavra que com isto produz a fé que vem acompanhada dos sinais.

Vemos no texto de Lucas 5:2 que Simão estava muito ocupado lavando as redes. Já ouvimos falar que Deus não chama desocupado e esta parece ser uma realidade e assim será em nossa vida, Deus nos chamará a servir talvez no momento que estivermos mais atarefados.

Jesus ocupa o barco de Simão, que representava sua vida, seu ganha pão, seu trabalho. Assim o Senhor quando se achega a nós é para entrar em nossa vida, e até nos leva a afastar-nos um pouco do terreno, do que é deste mundo para poder contempla-lo nos olhos.

Quando o Senhor quer nos levar a uma dimensão do sobrenatural, das coisas do Reino do Céu , Ele nos manda ir para as águas profundas e lançar a rede sob sua Palavra. Isto representa um desafio, pois vai contra a nossa razão, a nossa lógica, pois pela própria experiência tudo indicaria a inutilidade de lançar as redes, mas Pedro deu a resposta certa: “...mas porque mandas, lançarei a rede.” Lucas 5:5.

A Palavra de Deus - Lucas 5:4 - “lança a rede”
A Fé - Lucas 5:5 - “por que mandas, lançarei a rede”
O Fato - Lucas 5:6 - “Colheram uma grande quantidade de peixes”
A razão - Lucas 5:5 - “havendo trabalhado toda a noite, nada...”
A Emoção - Lucas 5:9 - “Pois que o espanto se apoderou dele”

sábado, 7 de junho de 2008

A VISÃO DE DEUS PARA A IGREJA

Bem sabemos que a visão de discipulado foi introduzida pelo nosso Senhor Jesus Cristo como mandamento a sua Igreja. Sabemos também que não é algo aleatório, mas que Ele começou a fazer e ensinar (Atos 1:1), para que fizéssemos. O que não entendemos é o motivo para o discipulado, para isto mencionaremos os princípios básicos para meditarmos e entendermos.
1.TREINEM OUTROS PARA AJUDAR
"Eu só não posso levar a todo este povo, porque muito pesado é para mim. Se assim fazes comigo, matame eu te peço..." Nm 11:14,15.
Moisés pede a Deus que o mate, pois está cansado com os muitos problemas do povo que tem que julgar a luz da lei Divina, e nem mesmo tem feito isto devidamente, pois também o povo tem que aguardar em fila para que possa Moisés julgar e aconselhar. Quando ouviu Deus (e ao sogro Jetro) descobriu a solução pelo conselho de Deus, aliás, sempre a solução está no conselho de Deus, como o que Jesus disse quando mandou fazer discípulos. "E disse o Senhor a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, de quem sabes que são anciãos do povo, e seus oficiais, e os trarás perante a tenda da congregação, e alí se porão contigo" Nm 11:16, "E tu dentro o povo procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; e põe-nos sobre eles por maiores de mil, maiores de cem, maiores de que cinquenta e maiores de dez. Para que julguem este povo em todo o tempo..." Ex 18:21,22.
Os versículos das Escrituras nos ensinam que os dons de liderança foram dados a Igreja para ensinar e treinar pessoas que sejam ativas na obra de Deus. Este era o propósito do ministério de Moisés, só que ele não sabia. A Igreja nos dias de hoje também não sabe da sua função de ensinar e treinar pessoas para ensinarem.
a)Uns ensinam a outros, Paulo explícito quando diz a seu jovem discípulo Timóteo, agora enviado que ele deveria ensinar a outros que ensinassem a outros e assim sucessivamente. "E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouvistes, confia-o a homens fiéis e que sejam idôneos para também ensinarem a outros" 2 Tm 2:2. Seria então a propagação do Evangelho de Cristo, numa escala de multiplicação que motivaria a divulgação rapidamente pelo mundo inteiro.
Se você ensinar e treinar um crente por um ano com a visão de discipulado e frutos, e no segundo ano você e o crente capacitado ensinar e treinar outros crentes e assim sucessivamente teriamos a seguinte expansão:
Ano 1 ___ 2 pessoas
Ano 2 ___ 4 pessoas
Ano 3 ___ 8 pessoas
Ano 10 ___ 1.024 pessoas
Ano 20 ___ 1.048.577 pessoas
Ano 33 ___ 8.589.934.592 pessoas
Em 33 anos, nesta proporção o mundo seria alcançado. "Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestidos brancos" Ap 7:9 Sim o Senhor que uma multidão de salvos. "O Senhor não querendo que alguns se percam, se não que todos venham a arrepender-se" 2 Pe 3:9.
b)Frutos que permanecem, sem dúvida a necessidade de pessoas convertidas que tendo a visão clara do senhorio de Jesus, de onde estã, o que são em Jesus e para onde irão, e assim permaneçam em Cristo Jesus como que ligados à videira e não ramos soltos, é indispensável ao Reino de Cristo "Não me escolhestes vós a mim, mas Eu vos escolhi a vós, e vos nomeei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça..." Jo 15:16.
2) ENSINAR-LHES A BÍBLIA
Qual ensino devemos ter na Igreja?
Ensino que provém do Pai celestial, ensino de sua Palavra. "E declara-lhes os Estatutos e Leis..." Ex 18:20.
Muitas vezes, no ensino, perde-se o foco, isto é o que realmente é o fundamento ou o principal, inclusive nos seminários teológicos. Como diz em Romanos 7:14 "Bem sabemos que a lei é espiritual...", mas o tratamento dado a ela é natural, assim não tem revelação da parte de Deus.
a)A realização acadêmica não é a meta, os judeus estavam maravilhados com o conhecimento de Jesus, pois sabiam que Ele não possuía credenciais da escola farisaica. "Como sabe essas letras não as tendo aprendido" Jo 7:15 e 6:63.
b)Procure obreiros, sim a característica do modelo de Jesus Cristo com o seus seguidores era o do aprender pelo Espírito fazendo na prática, aliando os ensinosde Jesus Cristo com a prática. "E dizia-lhes: Grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos, rogai para que envie obreiros para a seara." Lc 10:2.
3) MOSTRAR-LHES O TRABALHO A SER FEITO
"...e faze-lhes saber o caminhoem que devem andar (viver) e a obra que devem fazer" Ex 18:20.
A vida na Igreja requer a ousadia de viver e fazer conforme Jesus não só começou a fazer, mas também a ensinar.
"E depois disto designou o Senhor ainda outros setenta, e mandou-os adiante de sua face, de dois a dois, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir."
4) TRANSFIR AUTORIDADE (UNÇÃO)
"E... e tirarei do espírito que está sobre ti, e o porei sobre eles: e contigo levarão o cargo do povo, para que tu só não os leve." Nm 11:16,17.
Este é um princípio dos mais importantes (mas talvez esquecido) do ensino e treinamento do povo de Deus. Sem o poder do Espírito Santo, dentro do princípio de autoridade, o trabalho se torna ineficiente. Sem termos a consciência da presença do Espírito Santo sobre o ministério ficamosentregue a nossa força. "E, convocando os seus doze discípulos, deu-lhes virtude e poder sobre os demônios, e para curarem enfermidades" Lc 9:1.
Outro ensino importante encontramos em 2 Reis 9:9-15 onde vemos a unção compartilhada de Elias para Eliseu, segundo o ensino, fé e disposição de Eliseu.
Quem trasfere a unção é o Senhor Deus, não somos nós. "...e tirarei do espírito que está sobre ti, e o porei sobre eles..." Nm 11:17.
5) TRANFIRA A CARGA
Se encontramos um homem buscando responsabilidade, promova-o, ele será uma bênção para a obra do Senhor. Mas se não quiser compromisso, provavelmente não dará certo na obra. Sempre vemos os homens que Deus usou, dispostos para toda boa obra, pastoreando o rebanho não por que foi constrangido a isto, mas por espontânea vontade e como modelos para o rebanho.
O exemplo está na Palavra em 1 Pedro 5:1-4.